IPCA fecharia a 6,66%. Revisão abre espaço para queda dos juros.
Após amargar o descontrole da inflação, que chegou a dois dígitos no ano passado ( 10,67%), o brasileiro deve voltar a conviver com variação dos preços perto dos limites estabelecidos pelo governo. Por causa da recessão econômica, que ameaça ser cada vez mais profunda, e a desvalorização do real, os economistas ouvidos na pesquisa semanal Focus do Banco Central, divulgada ontem, reduziram pela sétima semana consecutiva a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA). Passou de 7,08% para 6,98% neste ano. O otimismo é maior entre os cinco analistas que mais acertam suas previsões para o mês seguinte. Para esse seleto grupo, a inflação oficial deve encerrar o ano em 6,6%. Essa perspectiva abre espaço para um afrouxamento da política de juros, mas tudo depende do quadro político.
Os analistas do mercado financeiro mudaram a perspectiva para o início dos cortes de juros de outubro para setembro, mas alertam que tudo dependerá do quadro político do país até lá. A trajetória de queda se estenderia até abril do ano que vem, quando os juros básicos chegariam a 12% ao ano.
Até a semana passada, os economistas esperavam uma queda mais suave da taxa básica, que alcançaria 12,25% ao ano em maio de 2017 e permaneceria nesse patamar nos meses seguintes. No entanto, o quadro poderia mudar em um eventual governo Michel Temer. Tudo depende de quem comandará a autoridade monetária na nova gestão.
Dentro da equipe econômica, a avaliação é que o cenário não é tão incerto como há duas semanas, quando o governo ainda tinha esperanças de barrar o processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Trabalha- se agora com a mudança da equipe. A única preocupação é em relação a possíveis erros na condução futura da política monetária.
— Acho que vamos entregar a inflação em rota declinante com boas perspectivas de ir à meta. Basta a nova equipe não se afobar e cortar juros rápido demais. O trabalho sujo já foi feito, basta começar a botar ordem no fiscal e ter paciência com a Selic ( taxa básica de juros) — disse uma importante fonte da equipe econômica.
A meta para este ano é fazer com que a inflação fique em 4,5% ou, no máximo, dentro da margem de tolerância de 2 pontos percentuais, ou seja, 6,5%. A ideia do Banco Central era ter feito um aperto dos juros no início do ano, mas desistiu depois da avaliação de que a recessão mundial seria maior que a esperada.
Amanhã, o Comitê de Política Monetária ( Copom) poderá dar sinais de qual seria o tempo ideal para que os novos diretores do BC iniciem os cortes de juros. A projeção é de manutenção da Selic nos atuais 14,25% nesta reunião.
Pelo desenho atual feito pelos economistas, não há espaço no curto prazo para outra política que não seja manter os juros ou cortá- los. Isso porque a inflação brasileira é atualmente de custos ( pesados reajustes da tarifa de luz e dos insumos importados, após a forte desvalorização do real no ano passado, por exemplo) e não de demanda ( quando o consumo do brasileiro pesa mais).
— Em condições normais da economia, os juros teriam de subir por causa da inflação alta, mas estamos num ambiente político instável — disse o economistachefe da Austin Ratings, Alex Agostini, que espera queda de juros em dois ou três meses.
Para o analista, que já defendeu elevações no passado para conter a escalada dos preços, não é o momento para falar em aumentar a Selic em busca de reaver a credibilidade da instituição:
— Qual credibilidade? Acho que já perdeu há muito tempo.
A aposta do mercado é de uma mudança de tom, amanhã, dos dois diretores que divergiram nas últimas reuniões do Copom e votaram pela subida dos juros. A expectativa é que o discurso de ambos, que defendiam alta dos juros, migrem para a estabilidade.
— Acho que, agora, a decisão deve voltar a ser unânime — previu André Perfeito, economista- chefe da corretora Gradual, que espera queda dos juros em outubro, ou seja, só quando o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff for concluído.
Pelo Focus, para 2017, a projeção para a inflação passou de 5,93% para 5,80%. A meta também é de 4,5%, mas há uma margem menor de tolerância, de apenas 1,5 ponto percentual.
Isso é reflexo de previsões para o desempenho do Produto Interno Bruto ( PIB) piores. De acordo com o relatório Focus, a economia deve recuar este ano 3,88% — a 14 ª revisão para baixo seguida. Já para 2017, houve elevação de 0,1 ponto percentual na previsão de crescimento da economia, que deve registrar uma leve expansão de 0,30%.
Veículo: Jornal O Globo