Concessão de crédito recua no início deste ano e tende a ser mais restrita

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Impulsionado pela inadimplência, crédito "anda de lado" e reflete expectativas negativas para o cenário brasileiro. A tendência é de maiores restrições nas concessões e de menores estoques para empréstimos nas financeiras.

De acordo com o relatório de política monetária divulgado ontem, pelo Banco Central (BC), o volume de concessões de crédito tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, por parte das instituições financeiras, ficou em R$ 292,2 bilhões em março.

O valor corresponde a uma alta de 12,2% em relação a fevereiro mas, por outro lado, representa quedas de 13,9% no trimestre, 5,2% em 12 meses e 9,2% em relação a dezembro de 2015.

O saldo de crédito, por sua vez, ficou em R$ 3,160 trilhões, representando uma marca 0,7% abaixo do visto em fevereiro e recuo de 1,8% tanto no trimestre quando no comparativo a dezembro.

Para Eduardo Coutinho, economista e coordenador do curso de administração do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), o crédito tem refletido os "problemas que afligem a economia" do Brasil e, mesmo com a alta de 12,2% nas concessões de março ante fevereiro, ainda não há "motivos para pensar em uma recuperação".

"Esse resultado pode ter sido apenas em razão dos dias úteis de fevereiro que, além de ser menor, ainda contou com o carnaval e, enquanto não houver no mínimo uma sinalização de que as medidas necessárias serão implantadas, não seremos capazes de sair dessa recessão. É difícil pensar que o crédito vai expandir, tendo em vista a piora constante dos indicadores e da desconfiança no País", diz.

Segundo Eduardo Tambellini, sócio da GoOn, a projeção feita pelo BC, de crescimento de 5% no estoque de crédito para este ano, é algo "muito pequeno" perto de anos anteriores. Além disso, ele destaca que a situação poderá sofrer grandes impactos do ambiente macroeconômico, seguindo uma tendência negativa.

"Quando olhamos a relação crédito/PIB [Produto Interno Bruto], a gente vê que os indicadores de antes eram maiores, principalmente em recursos direcionados. De qualquer forma, desde o ano passado nós começamos a ver um crescimento mais modesto e, apesar de isso ser parte de um processo de amadurecimento, o grande impacto a ser considerado é no cenário macro. Com as altas de desemprego, das taxas de juros e do endividamento, sem dúvida, 2016, tem muito a se alertar sobre os indicadores futuros" identifica o executivo da GoOn.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo DCI, apesar das grandes expectativas em torno de um cenário político mais definido, a solução para o crédito é "bem mais complexa" e difícil de retomar.

"De forma imediata há, sem dúvida, um respiro melhor, mas não acho que o crédito terá algum impacto direto disso. Não será suficiente para retomar, de forma rápida, todo o nível de confiança que o mercado tinha há alguns anos atrás", avalia Tambellini.

"Se a gente continuar na paralisia que nós estamos, 2016 seguirá no mesmo ritmo de 2015. Ainda que não haja melhoria, uma sinalização de futuro, pelo menos, já ajuda. Não necessariamente para esse ano, mas pelo menos já começando a pensar em 2017 e 2018, para que estes não sejam anos perdidos também", complementou Coutinho.

Inadimplência

Ainda segundo os dados do Banco Central, a inadimplência, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, permaneceu inalterada em março no comparativo a fevereiro. Na comparação trimestral, de 12 meses e em relação a dezembro de 2015, o índice sofreu leves alterações, subindo 0,1%, 0,7% e 0,1%, respectivamente.

Para Eduardo Tambellini, da GoOn, os indicadores do BC ainda não refletem a realidade do mercado, sendo limitados apenas ao observado nos bancos e instituições financeiras, mas desconsiderando os demais setores do País.

"Quando a gente olha para o mercado, mais de 40% da população acima de 18 anos está inadimplente, e esse sim é um indicador histórico. Quando comparamos os dois, a gente vê que o BC não olha para setores de serviço, por exemplo, com água, luz, gás e telefone, nem para o pequeno varejo, que é onde a inadimplência está mais elevada. Os bancos têm políticas bem mais restritivas e modelos com mais previsibilidades, prontos para fechar a porta do saldo, mas abrir a janela da cobrança, conseguindo se manter estável quanto aos devedores", afirma.

"As instituições estão aumentando suas provisões porque esperam uma piora ainda nos próximos meses. Com a atividade econômica se deteriorando, é preciso considerar que o impacto não é só para as famílias, mas para as empresas também. Assim, só nos resta esperar uma situação ainda mais delicada na inadimplência", conclui Coutinho.

 



Veículo: Jornal DCI


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