À medida que mais agentes econômicos se convencem da perda de força da inflação, a administração da dívida pública mobiliária torna-se mais previsível, constatou o coordenador-geral da dívida, Leandro Secunho, ao divulgar o relatório de março do Tesouro Nacional. A inflação mais comportada – apontando para menos de 7% neste ano, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central – abriu espaço para a colocação de papéis prefixados: R$ 31,2 bilhões foram vendidos, representando dois terços do total colocado no mês.
Esses são os títulos preferidos pelos investidores estrangeiros, que neles aplicam mais de 85% do total, mas também são demandados pelas instituições financeiras, cujas carteiras tinham 48,1% desses papéis em março.
O custo médio dos prefixados para o Tesouro foi inferior ao dos papéis corrigidos pela Selic (LFTs) e do total da dívida mobiliária interna. O custo médio da dívida acumulado em 12 meses também caiu: de 15,81% ao ano em fevereiro para 14,15% ao ano em março, ajudado por inflação e câmbio.
Mas a evolução da dívida mostra que os fatores de vulnerabilidade continuam presentes. O crescimento da dívida de 2,38% – de R$ 2,819 trilhões em fevereiro para R$ 2,886 trilhões em março – é superior ao IPCA de 0,43%. Os juros incorporados ao estoque da dívida atingiram R$ 30 bilhões. E piorou o perfil da dívida: a parcela vencível no curto prazo (12 meses) aumentou e o prazo médio de vencimento diminuiu (de 4,69 anos para 4,59 anos). O Tesouro deveria julgar a questão relevante, assim como a redução do peso dos investidores não residentes (estrangeiros), de 18,79%, em dezembro, para 16,73%.
O retorno do Brasil ao mercado internacional, vendendo US$ 1,5 bilhão (R$ 5,42 bilhões) de papéis com vencimento em 10 anos, pouco influenciou os resultados de março. O objetivo foi testar o mercado e servir como referência para outras emissões. O Tesouro quer reabrir a emissão de bônus em dólares, mas o vulto da emissão argentina (US$ 16,5 bilhões, na semana passada) deve retardar a operação brasileira.
O Tesouro parece atribuir importância menor ao descumprimento das metas do Plano Anual de Financiamento (PAF). Além da dívida de curto prazo, em mais um item a meta foi superada – as emissões de papéis prefixados deveriam ficar entre 31% e 35%, e estão em 37,17%. O que, neste caso, não parece muito relevante, dada a vantagem do custo.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo