O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2016 surpreendeu os analistas ao registrar quedas menores do que as estimadas pelo mercado.
Contudo, os novos números do indicador divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) não geraram muito otimismo e especialistas se dividem em relação às tendências para o ano.
Na comparação com o último trimestre de 2015, o PIB recuou 0,3% até março deste ano, alcançando R$ 1,47 trilhão no período. A Tendências Consultoria previa que o indicador fechasse com queda de 0,8%, enquanto a GO Associados estimava retração de 0,7% para os três meses.
Já em relação ao primeiro trimestre de 2015, o PIB caiu 5,4%, enquanto a Tendências esperava um resultado negativo de 6,1%. No acumulado dos quarto trimestre até março de 2016, o PIB recuou 4,7%.
A economista da Tendências Alessandra Ribeiro comenta que as quedas menores do PIB do que as estimadas para o período devem alterar a projeção da consultoria para o indicador fechado de 2016, de uma retração de 4% para um recuo em torno de 3,6% e 3,7%.
"É uma queda ainda bastante significativa. Não dá para dizer que já chegamos ao fundo do poço. No entanto, os indicadores do segundo trimestre já divulgados indicam que o PIB pode zerar na margem [trimestre contra trimestre imediatamente anterior] a partir do terceiro trimestre deste ano. Ou seja, o PIB tende a parar de cair ainda em 2016", prevê.
Contudo, Alessandra pontua que o indicador deve se estabilizar mais pela base de comparação ruim dos trimestres anteriores do que por uma reversão de cenário.
Luiz Fernando Castelli, analista da GO Associados, também estima que a estabilização ou o "PIB zero" já podem ser verificados neste ano por conta da base de comparação ruim e melhora dos indicadores do setor externo. O PIB da exportação teve alta de 6,5% no primeiro trimestre de 2016, ante último trimestre de 2015 e crescimento de 13% contra igual período do ano passado. Já as importações caíram 5,6% e 21,7%, respectivamente, na mesma base de comparação.
Para Alessandra, o setor externo tem minimizado a queda da indústria. A Tendências esperava recuo de 2,2% na margem para o primeiro trimestre, enquanto o IBGE divulgou que a queda foi de 1,2%.
Sem otimismo
Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos diz que a expectativa de estabilização do PIB não está dada. Para ela, ainda há dúvidas sobre a popularidade e a capacidade do presidente interino, Michel Temer, de aprovar medidas fiscais no Congresso Nacional. "A resolução fiscal é fundamental para a recuperação do PIB", afirma. "A força que se acreditava que o governo Temer teria está sendo questionada", acrescenta.
Fernando Ferrari Filho, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também chama a atenção para o papel da política fiscal na recuperação da economia. "É cedo para dizer se haverá melhora no PIB, sendo que poucas medidas foram encaminhadas para solucionar o fiscal. Estas estão sendo anunciadas à conta gotas e o governo segue com dificuldade de caixa", opina ele.
Nelson Marconi, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalva ainda que um dos "calcanhares de Aquiles" do PIB são os investimentos. "O cenário político ainda é muito incerto. E ninguém investe nessa conjuntura. De outro lado, não há nenhum programa de investimento, por parte do governo, sendo colocado em prática. Não consigo vislumbrar nenhuma melhora", considera.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, ou investimentos) caiu 2,7% na margem no primeiro trimestre deste ano, registrando a 10ª queda para essa base de comparação.
O consumo das famílias é outro vetor que deve continuar puxando o PIB para baixo por conta do desemprego. Na margem, o indicador caiu 1,7%.
Veículo: Jornal DCI