Especialistas acreditam que os brasileiros só voltarão a apresentar otimismo na economia a partir da melhora de indicadores de emprego, inflação e juros, que pode acontecer só em 2017
São Paulo - Até o final do ano a confiança do consumidor brasileiro deve permanecer negativa. Ontem, índices que medem o otimismo da população com a economia apontaram perspectivas distintas, deixando ainda mais nebulosa a previsão de retomada do comércio.
Em julho, de acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a confiança do consumidor marcou 68 pontos - dois pontos a menos que o registrado no mês anterior. Já na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda foi maior: 15 pontos. O resultado vem na contramão do indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para a entidade, no sétimo mês do ano, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu cinco pontos, ante o registrado em junho. Com 76,7 pontos, o indicador da FGV está quase dez pontos acima do mensurado pela ACSP.
Para alcançar patamares considerados positivos, no entanto, os índices de confiança do consumidor devem ultrapassar os 100 pontos.
"A discrepância entre os indicadores podem ser por conta de efeitos sazonais, como uma data, por exemplo. Um dia de pesquisa pode fazer a diferença nos números. Mas, em ambas, a tendência é de que haja leve melhora da confiança do consumidor neste segundo semestre", avalia o diretor do instituto de economia da ACSP, Marcel Solimeo.
Menos otimista, o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), professor Cláudio Felisoni, se mostra mais conservador que Solimeo. "Não há uma única razão para que os índices de confiança passem a se tornar positivos ainda neste ano. São indicadores que dependem de fatores mais sensíveis ao consumidor, como inflação, taxa de juros e desemprego, que estão em patamares muito acima do desejado atualmente", diz.
Com relação à perspectiva dos indicadores de comércio passarem dos 100 ponto este ano, ambos concordam. "Acho muito difícil o índice ultrapassar os 100 pontos neste ano, mas a tendência é de leve melhora, apesar da queda que registramos neste mês. Pode ser importante para que tenhamos um Natal melhor que o de 2015", argumentou Felisoni.
Para ele, os consumidores só voltarão a demonstrar confiança quando indicadores de preços (inflação), taxas de juros (crédito) e desemprego voltarem a melhorar também.
"Neste momento, não há indicativas de que isso pode acontecer, já que vai depender de reformas no ambiente legislativo e de como o cenário político vai se comportar nos próximos meses", analisa.
Na visão da FGV, a alta da confiança registrada no seu indicador neste mês reflete, justamente, uma sinalização de estabilização em Brasília.
"A rápida melhora das expectativas após a entrada do governo interino parece superar a velocidade de recuperação cíclica da economia no curto prazo, ainda mais considerando os riscos existentes no ambiente político, como a segunda fase do impeachment, as eleições e a votação das medidas de ajuste fiscal", indica a coordenadora da sondagem do consumidor da FGV, Viviane Bittencourt.
São Paulo avança
Apesar da queda no âmbito nacional, a confiança dos consumidores paulistas aumentou no início deste mês, segundo o levantamento da ACSP.
O índice voltado apenas ao Estado de São Paulo alcançou 69 pontos no período, contra 65 pontos no mês passado.
Para a associação, a melhora regional deve ser atribuída a expectativas favoráveis em relação aos cenários político e econômico. A Região Sudeste, como um todo, se mostrou mais otimista, com aumento de dois pontos, para 71, ante 69 em junho deste ano.
Futuro
Para o curto prazo, o consumidor brasileiro mostra cautela. De acordo com o estudo da ACSP, só 31% dos entrevistados acreditam que estarão em uma situação financeira melhor daqui a seis meses. Na pesquisa anterior, realizada em junho, 33% dos participantes acreditavam na melhora.
No sentido contrário, 28% afirmaram estar em uma situação econômica pior que a atual. O número representa estabilidade frente a junho.
Veículo: DCI