Inflação dos alimentos supera índice geral e avanço do salário desde 2012

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Problemas climáticos, boom das commodities e melhora da renda teriam puxado os preços nos últimos anos; especialistas defenderam melhora em infraestrutura e mudança em leis tributárias


 
São Paulo - Entre janeiro de 2012 e junho de 2016, comer em casa ficou 46,49% mais caro no Brasil. Enquanto isso, a inflação oficial do País subiu 33,25% e o salário mínimo avançou 41,48%. Os dados são do IBGE e do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).
 
No primeiro semestre deste ano, a alta dos preços para alimentação no domicílio chegou ao dobro do aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): 8,8% ante 4,4%. Exemplo desse crescimento foi a disparada do feijão carioca, que ficou 89,3% mais caro em 2016.
 
Também subiram mais que a inflação oficial os preços de frutas (12,9%), leites e derivados (16,8%), panificados (4,9%) e bebidas e infusões (6%). Por outro lado, as carnes (-0,5%) ficaram mais baratas neste ano.
 
O "fator clima" seria o principal motivo do aumento, afirmou Bruno Lucchi, superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
 
"Nos últimos anos, especialmente em 2016, essa foi uma questão determinante para a produção no Brasil. Neste ano, havia previsão para safra de 207 milhões de toneladas em grãos, mas vamos colher 189 milhões", indicou.
 
Ao falar sobre a inflação entre 2011 e 2013, Lucchi destacou o boom das commodities. "O aumento da demanda de emergentes, como a China e outros asiáticos, levou a um preço maior de produtos básicos no mundo todo", disse.
 
Outra razão para o encarecimento dos alimentos nos últimos anos seria a evolução da renda dos brasileiros, "pelo menos até 2014", disse Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). "Essa pressão acontece em todos os países em que há uma melhora nos padrões de vida", completou.
 
Bares e restaurantes
 
A opção por comer fora de casa também ficou mais cara neste ano, ainda que o aumento dos preços tenha ficado próximo da alta do IPCA. Segundo Santos, o avanço de 4,7% para alimentação fora do domicílio só não foi maior porque os custos não foram repassados aos consumidores brasileiros.
 
"Antes da crise, houve um aumento no número de restaurantes e bares no País. Por isso, ainda que os alimentos tenham subido bastante nos últimos meses, os donos dos estabelecimentos não podem cobrar muito mais, já que perderiam da concorrência", explicou o professor.
 
Salário mínimo

 
Em 2016, a inflação dos alimentos pesa ainda mais no bolso dos trabalhadores que recebem o piso salarial brasileiro, reajustado de acordo com o crescimento econômico do País. Após a recessão de 2015, o mínimo teve crescimento pouco acima do IPCA, chegando a R$ 880.
 
"Esse aumento de preços pesa mais para as pessoas de baixa renda, que gastam uma proporção maior de seus ganhos com alimentos", apontou Santos. O entrevistado lembrou que o crescimento do desemprego é mais um complicador para a renda dos mais pobres no Brasil.
 
Entretanto, seguiu ele, a saída não seria uma elevação maior do salário mínimo. "Ele já subiu acima do que a produtividade brasileira permitia. Aumentar ainda mais é inviável", comentou.
 
Para o professor, a resolução de problemas de logística e transporte poderia evitar variações maiores nos preços. "É fundamental melhorar a infraestrutura do País, que, hoje, encarece os produtos agrícolas", disse ele.
 
Já Lucchi afirmou que também seriam necessárias mudanças nas legislações trabalhista e tributária para que a inflação avance menos. "O produtor é bastante eficiente da porteira para dentro, mas encontra complicações do lado de cá", concluiu.
 
Fonte: DCI


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