Açúcar, ouro, veículos e aviões puxam altas de semimanufaturados e manufaturados gerando o melhor saldo em sete meses na história; entretanto, houve queda de 9,8% nos embarques básicos
São Paulo - Com aumentos de 7,6% nos embarques de manufaturados e de 13,6% nas exportações de semimanufaturados, a balança comercial brasileira alcançou superávit de US$ 4,140 bilhões em agosto. Foi o melhor saldo para o mês desde 2006 (US$ 4,554 bilhões).
Já o acumulado nos sete meses de 2016 chegou ao valor de US$ 32,370 bilhões, o melhor resultado da série histórica iniciada em 1989. Na comparação entre agosto deste ano e igual período de 2015 foram registradas quedas nas vendas de produtos básicos (-9,8%) e nas importações brasileiras (-8,3%). As informações foram divulgadas ontem pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
O avanço da venda de açúcar foi o destaque das transações de agosto. Já a variante bruta da mesma mercadoria cresceu 72,2%, para US$ 822 milhões, enquanto a versão refinada subiu 154,1%, para US$ 308 milhões.
Os aumentos foram os mais expressivos dos grupos de semimanufaturados e de manufaturados. No primeiro setor, os embarques chegaram a US$ 2,701 bilhões. No segundo, alcançaram US$ 6,622 bilhões.
Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), uma alta de 80% nos preços internacionais do açúcar seria o principal motivo do crescimento das receitas. Ele ainda indicou um aumento no volume exportado do grão em 2016.
No grupo dos semimanufaturados, também avançaram as vendas de ouro (+61,5%, para US$ 241 milhões), alumínio em bruto (+29,7%, para US$ 59 milhões), madeira serrada (+23,0%, para US$ 51 milhões), ferro-ligas (+8,8%, para US$ 206 milhões) e semimanufaturados de ferro/aço (+8,2%, para US$ 299 milhões).
Já no grupo dos manufaturados, outras altas significativas foram vistas em veículos de carga (+116%, para US$ 232 milhões), aviões (+102,3%, para US$ 526 milhões), automóveis de passageiros (+66,2%, para US$ 449 milhões) e máquinas para terraplanagem (+60%) para o montante exportado de US$ 140 milhões.
De acordo com Castro, a exportação de veículos tem a Argentina como principal destino. "É um reflexo claro dos incentivos ao comércio exterior do governo de [Maurício] Macri", afirmou.
Subiram as vendas de tratores (+25,1%, para US$ 102 milhões), óxidos e hidróxidos de alumínio (+19,2%, para o valor de US$ 183 milhões), calçados (+16,0%, para US$ 88 milhões) e motores elétricos (+0,05%, para US$ 127 milhões).
Com esses avanços, as exportações de todos os setores tiveram aumento de 0,2% ante agosto de 2015. Os embarques renderam US$ 16,989 bilhões ao Brasil no mês passado.
"Esse resultado é bastante positivo economicamente porque indica que há demanda por nossos produtos. As exportações estão criando empregos, pagando impostos e amenizando um pouco os efeitos da crise", disse Antônio Porto, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entretanto, Castro apontou que as vendas para o exterior devem ter leve recuo nos próximos meses. Além da valorização do real, o fim da safra de soja também deve afetar os embarques brasileiros.
Produtos básicos
A queda do rendimento com os embarques de soja também prejudicou o resultado dos produtos básicos no mês passado, que diminuiu para o valor de US$ 7,227 bilhões.
Além do recuo do grão (-27,6%, para US$ 1,6 bilhão) na comparação com agosto de 2015, também caíram os ganhos com carne bovina (-20,8%, para US$ 351 milhões), carne de frango (-14,4%, para US$ 532 milhões), petróleo bruto (-13,8%, para US$ 1,1 bilhão) e café em grão (queda de 9,1%, para US$ 422 milhões) e farelo de soja (-1,8%, para US$ 462 milhões).
E a tendência para os embarques de soja não é boa. Segundo Castro, uma "supersafra" nos Estados Unidos deve ampliar a oferta global em 2017, prejudicando as vendas do grão brasileiro.
Importações
O recuo dos gastos do Brasil com produtos estrangeiros para US$ 12,849 bilhões foi possibilitado por quedas em todos os setores analisados: bens de capital (-31,0%), combustíveis e lubrificantes (-15,1%), bens de consumo (-13,5%) e bens intermediários (-0,5%).
Diretor de Estatística e Apoio às Exportações da Secretaria de Comércio Exterior do Mdic, Herlon Brandão destacou o fato de agosto ter registrado a menor queda mensal desde novembro de 2014, na comparação com o mesmo mês de ano anterior.
Já Castro projetou um avanço das compras nos próximos meses deste ano. Para tanto, a ajuda do câmbio deverá ser acompanhada por um aumento nas importações dos bens de consumo, que serão vendidos nas festas de final de ano.
Fonte: DCI