Mesmo com um impacto positivo após a desvalorização do dólar ante o real, a compra externa pode ficar abaixo do esperado nos próximos meses e reflete compasso de espera de investidores
São Paulo - O quarto trimestre de 2016 deve se mostrar como o "fim de ano dos importados". Contudo, a capacidade de investimento na produção ainda é baixa, com compras focadas na revenda de produtos.
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) sinalizam uma melhora no volume de importações no acumulado de janeiro a setembro em relação ao observado no começo deste ano.
Mesmo ainda em queda, o ritmo dessa diminuição nas importações dos manufaturados e semimanufaturados desacelerou mês a mês: no primeiro caso, a queda de 39,85% registrada em janeiro deste ano ante igual período de 2015, passou para um recuo de 8,41% em setembro na mesma base de comparação. No segundo item, a variação foi de -46,28% para -9,35%, respectivamente.
Já nos produtos básicos, a queda foi de -25,03% para -15,12%, em igual relação.
Em grande parte, a desaceleração está relacionada à valorização do real frente ao dólar, que saiu do patamar de R$ 4 visto no final do ano passado para atuais R$ 3,19, o que melhora os preços para os importados e acaba impulsionando a compra desses produtos pelo Brasil.
Segundo especialistas entrevistados pelo DCI, no entanto, a melhora das importações não significa, necessariamente, um aumento na capacidade de investimento na produção por parte dos empresários do País.
O economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), André Mitidieri, ainda destaca que, mesmo com os volumes de importação revertidos no final do ano, o consumo e a produção ainda estão em queda e podem afetar os resultados do Natal e do ano novo de 2016.
"O que tem impulsionado essa melhora são os bens intermediários e, mesmo que os bens de consumo possam subir um pouco, é improvável que acompanhem iguais patamares de 2015 e deve ficar abaixo do esperado", avalia.
Para Alexandre Del Rosso, diretor de comércio exterior da BrTrade, a alta na compra de produtos manufaturados e semimanufaturados reflete um preparo sazonal das empresas, que compram itens focados na revenda e no aumento do consumo no final do ano.
Ele ressalta, porém, que esse cenário "vai na contramão" do aumento de capacidade de investimento no Brasil.
"Ao invés de gerar riqueza aqui, contratando mão de obra nacional e produzindo no País, o empresário prefere importar artigos do exterior, pagando os respectivos impostos e deixando de incentivar a economia brasileira", explica o executivo.
De fato, os últimos dados do indicador de investimentos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mede o quanto se aplicou em construção civil e na compra de bens de capital, como máquinas e equipamentos para produção de outros bens, apontam redução equivalente a 2,8% em agosto ante julho.
Já no trimestre terminado em agosto, os investimentos caíram 0,4% em relação aos três meses anteriores, puxado pelo Consumo Aparente de Máquinas e Equipamentos (Came), que recuou 2,5%.
De acordo com Patrícia Gomes, diretora da divisão de mercado externo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o segmento recuou 0,2% na comparação mensal de setembro ante agosto (de R$ 1,2 bilhão para R$ 1 bilhão) e 18% no terceiro trimestre em relação ao acumulado dos meses de abril, maio e junho.
"É um investimento e quando aparece uma crise, esse segmento é o primeiro a parar e o último a voltar", avalia Gomes, acrescentando que mesmo com a retomada econômica prevista para 2017, o setor ainda não sente nenhuma recuperação nas importações.
"É uma previsão difícil, porque a indústria ainda vai usar os 35% de capacidade ociosa que ela tem antes de pensar em investir para produzir", complementa a diretora.
Segundo Del Rosso, mesmo com a "aparência de segurança" que o governo de Michel Temer tenta passar aos investidores, os empresários ainda "ficam com o pé atrás".
"Ele [Temer] está querendo mostrar que o Brasil está se recuperando e, apesar de já ter melhorado as expectativas para o ano que vem, os investidores ainda estão esperando a concretização da retomada", conclui o diretor da BrTrade.
Destaques
Mesmo apontando uma queda nas importações, no entanto, os dados do MDIC destacam aumentos significativos na Coreia do Sul (95,6%) para os produtos manufaturados.
Segundo Gomes, no entanto, esse resultado reflete os nove atos institucionais de cooperação, assinados em abril de 2015 entre o Brasil e o país, responsável por trazer inovações tecnológicas ao País.
Fonte: DCI