Item nacional recupera espaço no varejo de roupas infantis

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Projeção em linha. Câmbio permitiu ao produto brasileiro voltar às prateleiras e, ao varejo, cortar custos e controlar estoque. O ponto de inflexão, porém, só deve acontecer no fim de 2017

 


São Paulo - Impulsionado pela substituição das importações e pelo início de uma retomada da economia, o mercado de vestuário infantil já demonstra sinais de melhora. O ponto de inflexão, tanto para o varejo quanto para a indústria, no entanto, deve ficar apenas para o segundo semestre de 2017. Na avaliação do diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), Marcelo Prado, boa parte deste otimismo, pelo lado das fabricantes, está relacionado à diminuição na entrada de produtos importados no País, o que abriu mais espaço de atuação para a indústria nacional. "Com a crise, o consumo de roupas para crianças caiu, mas essa situação deve reverter-se. O destaque fica para a produção, que voltou a crescer antes do consumo graças à queda nas importações", explica o analista, que acredita que a demanda por vestuário infantil deve melhorar apenas a partir do segundo semestre do ano que vem.



Entre 2015 e 2016, a importação desses itens deve registrar queda de 35,5%, chegando a 66,6 milhões de peças, de acordo com estimativas do Instituto. Para o próximo ano, a previsão é de que a retração atinja 40%. "Durante anos o Brasil perdeu espaço para produtos importados nesse segmento, mas isso deve demorar para voltar a ocorrer. Por enquanto, haverá mais espaço para as fabricantes nacionais e não vejo risco de reversão deste quadro no curto prazo", afirma. De acordo com ele, a previsão para 2017 é de que a indústria nacional tenha uma participação superior a 90% dentro do varejo brasileiro de vestuário infantil.
O diretor financeiro das marcas Nini & Bambini e Jaca Lelé, Jair Kuhnen, afirma que já observa este movimento. "Nos últimos meses percebi que há menos produtos vindos de fora, então naturalmente a demanda pelos itens nacionais aumenta. Ano que vem essa situação deve intensificar-se", prevê.

Na outra ponta



Em linha com a visão do executivo, a varejista Tip Top, que possui 108 lojas espalhadas pelo Brasil, diz que, desde o ano passado, vem diminuindo o número de produtos importados em suas lojas, em decorrência do aumento do dólar. "Em 2014, 50% dos nossos produtos eram importados. A partir do ano passado diminuímos essa fatia para 40%", diz a gerente de franquias da rede, Daniela Venâncio.



Na Alô Bebê, que tem 25 lojas no País, os produtos nacionais também têm ganhado relevância. De acordo com o diretor de marketing da empresa, Milton Bueno, em se tratando dos itens de vestuário, praticamente 100% dos artigos são nacionais. "No total a divisão ficaria em 50/50, mas os produtos que importamos são brinquedos, fraldas e itens de segurança. Vestuário, hoje, é quase 100% nacional".



Para Kuhnen, da Nini & Bambini e Jaca Lelé, outro ponto que deve favorecer a indústria é o baixo nível de estoque do varejo, reflexo da queda das temperaturas registradas nas regiões Sul e Sudeste nos últimos meses. "Tivemos mais meses de frio este ano, deixando os lojistas com pouco estoque. Com certeza nossa produção para a próxima coleção outono-inverno será maior por conta disso", diz o executivo. A empresa de Santa Catarina produz 1 milhão de peças por mês.



Apesar da percepção do fabricante de um aumento na demanda dos comerciantes, a Tip Top diz que desde o ano passado a empresa vem tentando reduzir gradativamente o tamanho de seus estoques. "Iniciamos um processo para tornar o estoque mais saudável. Fomos reduzindo aos poucos a compra de alguns itens para não ter dinheiro parado e evitar perdas", diz Daniela.



A Alô Bebê também afirma que vem trabalhando, nos últimos anos, com níveis de estoque menores. Segundo Bueno, o objetivo é mitigar riscos. "Estamos com o estoque bem mais enxuto, para evitar mercadoria parada", diz o executivo, que prevê para este ano um recuo de cerca de 12% nas vendas.

 

Segundo ele, desde o começo de 2016 a empresa sentiu uma queda forte do tíquete médio, em torno de 15%, uma diminuição no fluxo de consumidores e também na margem. "Para 2017, pode ser que no primeiro semestre tenha uma estabilização e no segundo um crescimento. Para o ano como um todo esperamos uma alta entre 1% e 1,5%", comenta. O executivo conta que, diante do cenário de crise, a principal ação adotada pela empresa para atravessar o período foi a redução dos custos operacionais. "Cortamos na própria carne. Reduzimos colaboradores e procuramos tornar a máquina mais eficiente", acrescenta ele.

De acordo com Daniela, da Tip Top, a empresa também busca cortar custos através da negociação mais forte com os fornecedores e da economia em diversas frentes da operação. "Foram várias ações pequenas que, somadas, geraram uma diminuição considerável", afirma. Assim como a Alô Bebê, a varejista espera vendas menores para este ano, com um recuo previsto de cerca de 3%, em termos reais. Em relação ao tíquete médio, Daniela diz que ele se manteve estável. "Fomos mais agressivos no preço para que o cliente comprasse mais e o tíquete não caísse."


Para aumentar sua competitividade, a fabricante das marcas Nini & Bambini e Jaca Lelé deixou de comprar alguns tecidos de terceiros e passou a produzi-los. "Atualmente produzimos cotton e moletom aqui mesmo, assim conseguimos reduzir custos de produção e mantemos preços melhores para os varejistas. Fica bom para os dois lados", conta Kuhnen.


Apesar da perspectiva ainda não tão positiva por parte do varejo, o diretor financeiro da fabricante Verivê, Ivo Bignotto, está otimista com o cenário industrial, principalmente em função da baixa nas importações. "Mesmo que a confiança do varejo não esteja muito alta, eles precisam fazer encomendas. Sem o produto importado, as fabricantes brasileiras devem aproveitar a oportunidade para ocupar esse espaço", afirma.



Para ele, esse aspecto, somado a gradual recuperação econômica, deve marcar 2017 com o ano da retomada do setor e preparar terreno para o ano seguinte, quando a demanda deve intensificar-se ainda mais. "Por enquanto ainda há muita insegurança sobre o ambiente econômico, então fabricantes e varejo estão agindo com muita cautela. Mas é um mercado que não deixa de se movimentar, por isso já acredito em alguma recuperação", conta.

 

 



Fonte: DCI - São Paulo


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