Safra argentina entra no radar do mercado e pode mover preços globais

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País vizinho está em vias de plantar a segunda temporada de soja e ainda fica sujeito a riscos de problemas climáticos na lavoura; impacto para o Brasil está na movimentação dos indicadores

 


 
São Paulo - Passada a safra norte-americana, os olhos do mercado de commodities estão voltados para a América do Sul. Se no Brasil a colheita já foi iniciada, com forte tendência de resultados positivos, fica para a Argentina o maior poder de mudar o trajeto dos indicadores. No país vizinho, o plantio da primeira temporada foi encerrado e as lavouras estão no processo de enchimento dos grãos, que estarão disponíveis para venda só entre meados de março e abril. Mas determinadas províncias ainda estão em vias de semear uma safrinha de soja - a mesma que no ano passado registrou graves problemas por excesso de chuvas.


 
"Na Argentina está chovendo bem agora, ao mesmo tempo em que no Brasil as condições estão muito boas, salvo em regiões do Rio Grande do Sul e Bahia, cujos calendários são um pouco mais atrasados. O mercado já precificou esse cenário, justificando as quedas mais recentes nas cotações" avalia o consultor da INTL FCStone, Jonas Pizzatto. Na última quinta-feira (5), a soja marcava R$ 74,82 no porto de Paranaguá (PR), segundo o índice Esalq/BM&FBovespa, 1,14% menor na variação mensal. Na mesma data, o milho fechou a R$ 36,90, representando recuo de 3,33% no igual intervalo avaliado.


 
O especialista da consultoria ressalta que os atuais fundamentos apontam para baixa nos preços globais, mas o desempenho dos argentinos ainda é a maior dúvida que há na América do Sul. "A presença da La Niña não nos deixa descartar possibilidades de prejuízos climáticos. Como já aconteceu no ano passado, acho pouco provável, mas é possível", explica o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos. No entanto, ele acredita que o impacto em produtividade pode vir pelas intempéries que já ocorreram na safra, antes que as chuvas se estabilizassem.


 
A empresa de análises privada Informa Economics reduziu, na última sexta-feira (6), suas estimativas para a produção de milho e soja no país vizinho e subiu as projeções para o trigo referentes a 2016/ 2017, conforme a agência de notícias Reuters. Em um relatório mensal, a companhia aposta em 36 milhões de toneladas para o cereal, ante 36,5 milhões na previsão anterior. No caso da olaginosa, são esperadas 55 milhões de toneladas, um milhão abaixo da estimativa do mês passado. Já a expectativa para o trigo teve ganho de 2 milhões de toneladas, para 15 milhões.

 


 
Vendas externas
Na semana passada, o Ministério da Agroindústria da Nação Argentina (MinAgri, na sigla em espanhol) oficializou a redução de 0,5% nas alíquotas de exportação de soja e seus subprodutos, vigente de janeiro de 2018 a dezembro de 2019. A diminuição nos impostos teve início em 2015, com a entrada do governo Maurício Macri.


 
De acordo com a Câmara da Indústria de Azeite da Argentina (Ciara, na sigla em espanhol) e o Centro de Exportadores de Cereais, o país encerrou o ano passado com US$ 23,91 milhões em faturamento com vendas externas no segmento agrícola, salto de 21,4% em relação ao desempenho de 2015. A receita obtida em 2016 foi a terceira maior da história, atrás apenas dos resultados de 2011 e 2014, períodos em que a comercialização acompanhou o movimento de alta nos preços internacionais.

 

Consideradas as vendas para tradings e agroindústria, os argentinos já venderam 14,01 milhões de toneladas da temporada de 2016/2017, que ainda está no campo, de acordo com informações do Ministério compiladas pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires. Em termos de competitividade, o analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, esclarece que a produção de grãos do Brasil concorre diretamente com as commodities dos Estados Unidos, uma vez que o forte dos argentinos é a fabricação e exportação dos subprodutos da soja (óleo e farelo).

 

"A política tributária praticada lá [na Argentina] incentiva a industrialização dos produtos, fazendo com que eles tenham uma vantagem competitiva no mercado global e sejam os maiores exportadores desta cadeia", comenta o especialista. Sendo assim, o maior reflexo do desempenho das lavouras vizinhas está justamente na movimentação dos indicadores. "Se aqui tivermos uma colheita cheia e lá também, os preços caem. Se a coincidência surgir na quebra, os índices sobem", acrescenta. A FCStone elevou sua projeção de soja brasileira para o recorde de 102,8 milhões de toneladas e o milho foi mantido em 91,05 milhões.

 


 
Nayara Figueiredo


 
Fonte: DCI - São Paulo

 

 

 


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