Expectativa é de aumento de 5% nas vendas externas da carne, após o salto de 33% no volume embarcado em 2016 sobre um ano antes. Recomposição de produção será analisada em 2017
São Paulo - Uma vez ajustada a disponibilidade de suínos, a Cooperativa Central Aurora Alimentos - uma das maiores fornecedoras do setor - acredita que não há como recompor a produção neste ano e a rentabilidade melhor virá da combinação de custos menores e embarques. No ano passado, afetada pela crise econômica, a oferta de animais no mercado interno, em geral, caiu 3,5%. No entanto, mesmo a preços mais baixos, as exportações saltaram 33% e a combinação entre custo menor e venda externa melhoram o horizonte de renda do setor.
"A oferta será mantida e o grande desafio é mandar para fora porque o consumo interno não está andando. Há plenas condições de manter alto o ritmo de exportação", disse ao DCI o diretor comercial da Aurora, Leomar Somensi. Estimativa prévia da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indica que, no ano passado, as vendas externas do setor atingiram 720 mil toneladas, contra 555 mil toneladas em 2015.
Em receita, o saldo final teria ficado em US$ 1,444 bilhão, 13% acima do desempenho do ano anterior, que foi de US$ 1,279 bilhão. Para 2017, a expectativa da associação é de um crescimento moderado, de aproximadamente 5%. "Houve um forte incremento da China nas compras e agora contamos com a abertura da Coreia do Sul e retomada de países africanos", comenta o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin.
Além disso, o comércio internacional de suínos pode ser favorecido pelos episódios de gripe aviária espalhados pelo mundo. Na hipótese de ampliação dos casos, que já ocasionaram o abate de milhões de aves na Ásia, Europa e mais recentemente na América do Sul, com focos encontrados no Chile, há uma substituição natural no consumo das proteínas. A carne bovina seria a primeira opção, mas é mais cara em relação às demais, então, de acordo com Santin, o suíno encontra uma chance maior de avançar em vendas.
Mercado doméstico
Perto de 85% da produção de carne suína serve ao consumo doméstico e esta proteína ainda conta com um nível menor de liquidez quando comparado ao frango ou ao bovino. "Se o mercado principal não vai crescer [neste ano], como fica a atividade?", questiona o vice-presidente da ABPA. Uma perspectiva de custos de produção mais baixos abre precedente para que as agroindústrias do País trabalhem com ofertas, por exemplo, repetindo uma estratégia já aplicada no ano passado.
Para a Aurora, a competitividade ainda vem amparada pela diminuição nos preços dos insumos da ração. "Já temos valores de farelo de soja e milho mais atrativos para as agropecuárias", ressalta Somensi.
Entre os elos da cadeia, o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), Valdecir Luis Folador, conta que a sustentação para o comércio interno foi vender mais barato, exceto no fim do ano, quando houve um pequeno incremento sazonal de renda por cortes tradicionais das festas. "Em dezembro que é bem típico o consumo, o pernil, leitão, esses produtos conseguiram se recuperar em termos de preços, mas, de modo geral, foi difícil conseguir ganho principalmente em quantidade demandada", acrescenta a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Camila Ortelan.
No decorrer do ano, de acordo com a avaliação do Cepea, a postura é de cautela para que não ocorra "sobreoferta" de carne no mercado doméstico. "O setor compreendeu que não pode fazer incrementos acima de 3% na produção para não prejudicar o escoamento. A palavra do ano é cautela", complementa Folador.
Nayara Figueiredo
Fonte: DCI - São Paulo