Inflação desacelera, mas impacto é pequeno para famílias e empresários

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Recuo dos preços deve ficar mais perceptível após reajustes salariais e redução da taxa básica de juros. Para este ano, foi projetado novo arrefecimento do IPCA, que deve se aproximar dos 4,5%.

 



São Paulo - Os índices de preços perderam força nos últimos meses, mas o recuo da inflação traz poucas mudanças para famílias e empresas do País, que são mais afetadas pelas outras consequências da recessão. O aumento do desemprego, por exemplo, teria um peso maior para os consumidores, neste momento, do que a desaceleração nos preços, segundo Eduardo Velho, diretor da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).


"A percepção de ganho pelas famílias não é tão grande, inclusive porque muita gente está endividada e as taxas de juros seguem elevadas. Ainda assim, algumas mudanças, como a queda nos preços de alimentos, são percebidas", explicou o especialista. Os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a inflação dos alimentos atingiu alta de 8,54% entre janeiro e novembro de 2016, mas houve queda desse índice durante o último trimestre do ano.


E a impressão dos empresários também não é boa. "O recuo [dos preços] é baseado na recessão econômica, e não no crescimento da atividade. Temos uma diminuição do aumento dos custos, mas as empresas não têm condições de repassar esse aumento aos consumidores", afirmou Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi).


O entrevistado disse ainda que a maior parte dos insumos industriais, como energia elétrica e gasolina, ficou mais cara em 2016. "O ritmo do aumento foi um pouco menor, mas todas as matérias primas avançaram no período". Por outro lado, Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), destacou que o arrefecimento da inflação cria um cenário mais favorável para os empresários. "O setor privado ganhar estabilidade para planejar e para operar."


Entretanto, ele ponderou que essa melhora é mais percebida por empresas de grande porte. "Aquelas companhias que fazem parte de oligopólios, que encaram menor concorrência, têm maior facilidade para impor preços", justificou o economista.

 



Reajustes
A provável diminuição da taxa básica de juros, ao longo deste ano, deve criar uma situação melhor para consumidores e empresários, defenderam os entrevistados do DCI. "Enquanto o ajuste fiscal avançar, os cortes da Selic vão avançar também. Com juros mais baixos, é possível que a desaceleração dos preços fique mais perceptível no segundo semestre", apontou Velho.


Couri seguiu a mesma linha. "O custo do dinheiro aumentou muito e o crédito está cada vez mais restritivo. Se não houver uma mudança, as empresas vão continuar quebrando." Outra mudança que deve tornar o recuo da inflação mais atraente para o brasileiro é o reajuste salarial. O aumento nos ganhos dos trabalhadores, em grande parte baseado no IPCA do ano passado, deve superar as altas nos preços deste ano, indicou Rochlin.


"Os reajustes atrelados a 2016 serão maiores que a inflação de 2017, que seguirá trajetória descendente. Isso significa que o salário médio real de muitas pessoas vai aumentar", afirmou o professor. Ele ainda apontou que os indicadores que medem a atividade dos setores de comércio e serviços devem ter resultados melhores neste ano. "Em conjunto com uma inflação mais baixa, desenha-se uma perspectiva melhor para a atividade econômica", acrescentou.

 



Arrefecimento
Informações do IBGE mostram que os principais componentes da inflação brasileira recuaram na comparação entre os dois últimos anos. Entre eles, destaque para os preços de alimentos, que esfriaram frente a uma alta de 10,37% em 2015. Depois de avançar durante os primeiros meses de 2016, principalmente por causa de problemas climáticos, o item perdeu força no segundo semestre, quando foi registrada deflação para produtos como o feijão e o leite, que dispararam no começo do ano passado.



O grupo habitação registrou recuo ainda maior. Depois de atingir aumento de 17,74% em 11 meses de 2015, o item avançou apenas 3,47% entre janeiro e novembro de 2016. Um dos principais motivos dessa trajetória foi a contenção nos preços da energia elétrica. Também foram marcadas desacelerações importantes no grupo transportes, que subiu 8,68% em 2015 e 3,08% no ano passado, e no item despesas pessoais, que avançou 8,88% em 2015 e 6,92% em 2016.



O componente saúde e cuidados pessoais foi o único a marcar, em 11 meses do ano passado, inflação superior àquela vista em igual período de 2015 (10,50% ante 8,47%). O encarecimento dos remédios foi o grande motivo da alta do grupo no ano passado.

 



Para baixo
Em 2017, a demanda e o clima, principais motores do IPCA nos últimos anos, devem favorecer uma nova diminuição dos índices de preços, afirmaram os entrevistados. São esperados resultados ruins do consumo e uma boa quantidade de chuva nos primeiros meses deste ano. O último relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), indicou que a inflação oficial no País deve ficar abaixo do teto meta do governo (6,5%), em 2016, e se aproximar do centro da meta (4,5%) neste ano.

 



Renato Ghelfi



Fonte: DCI - São Paulo

 

 


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