Redução do dólar pressionou resultados financeiros do ano passado, mas expectativa de custos mais baixos deve melhorar desempenho operacional. Produtos de valor agregado estão no radar
São Paulo - A consolidação de preços menores nos insumos de produção pecuária enquanto aumenta a oferta de gado, aliada à estabilidade no câmbio, levam a JBS a prever uma recuperação gradativa nas margens ao longo deste ano. "Estamos assistindo o preço do milho caindo e o boi, quando se olha para frente, vemos o preço cedendo. Claramente acreditamos que existe uma oportunidade e a indústria vai capturar uma recomposição de margens", disse o diretor-presidente global da gigante de alimentos, Wesley Batista, ontem, teleconferência com analistas para detalhar resultados.
No ano passado, o desempenho das unidades brasileiras prejudicou o lucro líquido consolidado da JBS, que teve recuo de 91,9% ante 2015. A companhia lucrou R$ 376 milhões no ano passado. Além da crise de escassez do milho, que jogou a despesa com insumos nas alturas, a desvalorização do dólar pressionou os resultados de exportação. Lá fora, a diminuição dos preços internacionais de aves e suínos também puxou os números finais para baixo.O modelo globalizado da empresa permitiu que os danos fossem minimizados, neste caso, pelo desempenho positivo da JBS USA, unidade norte-americana de carne bovina que inclui Canadá e Austrália. No quarto trimestre de 2016, houve um acréscimo de 7,9% nas exportações desta unidade, com destaque para o mercado asiático. O consumo interno aquecido nos Estados Unidos e a maior disponibilidade de animais para abate levaram o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) a subir 7,3% em relação ao ano anterior.
Em consequência, o prejuízo líquido de R$ 275 milhões referente ao quarto trimestre de 2015 na JBS global foi convertido em lucro de R$ 694 milhões nos três últimos meses do ano passado. Agora, a analista sênior da BB Investimentos, Luciana Carvalho, aponta que todas as unidades devem se beneficiar de uma inversão de ciclo no médio prazo. "Esperamos menores custos e melhorias na margem Ebitda, principalmente devido a: alívio dos preços de grãos e gado no Brasil; maior oferta de gado e ganhos de sinergia com a aquisição nos EUA", avalia a especialista.
Ela se refere à compra da Plumrose USA anunciada na segunda-feira (13), fabricante de produtos como bacon e presunto, cuja sinergia com a JBS deve gerar um valor entre US$ 25 e US$ 30 milhões à controladora, de acordo com os cálculos do presidente da JBS, Wesley Batista. "O negócio com a Plumrose está em linha com o atual foco da JBS em alimentos preparados de valor agregado, e deve adicionar aproximadamente 1% de vendas ao grupo. Entretanto, isto também eleva marginalmente o endividamento", alerta a Citi Corretora. Para a analista da BB Investimentos, uma preocupação é saber se o aumento lento dos preços internacionais será suficiente para compensar a diminuição dos volumes exportados no decorrer de 2017. Do mais, o cenário traçado para a JBS nada mais é do que o reflexo projetado para a maior parte do segmento da indústria de proteína animal. "Anos de baixa no ciclo pecuário são anos melhores para frigoríficos. Se não tivéssemos um quadro de recessão econômica [no Brasil] seria ainda melhor", pondera o analista da Scot Consultoria, Alex Lopes. Só neste mês, o boi está 9,7% mais barato na variação anual.
Fonte: Fonte DCI