IPCA desacelera para 0,14% em abril e possibilita corte maior na taxa Selic

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São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou para 0,14% em abril, a menor taxa para o mês desde 1994. Com isso, ganhou força a aposta em um corte de 1,25 ponto percentual na Selic no próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

 

De acordo com especialistas entrevistados pelo DCI, a expressiva desaceleração do IPCA acumulado em doze meses, que desceu a 4,08%, aliada à atividade econômica fraca no País, abre espaço para uma flexibilização da política monetária na reunião do dia 31 de maio dos diretores do Banco Central (BC).

 

"Existe uma forte chance de uma intensificação dos cortes, já que a taxa de juro real continua bastante alta, o que prejudica a retomada", disse Clemens Nunes, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV). Neste ano, o Copom promoveu duas reduções de 0,75 ponto percentual e uma de 1 ponto percentual na Selic.

 

Ele destacou que o IPCA acumulado em doze meses deve continuar caindo até agosto. No começo deste ano, a inflação ficou abaixo das projeções de mercado. Para abril, por exemplo, os analistas financeiros, consultados pelo relatório Focus, esperavam aumento de 0,18%.

 

"O comportamento da inflação é uma grata surpresa para o mercado, ainda que esteja relacionado à forte recessão no País", disse Miguel Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). "Com essa trajetória, é possível que mais agentes financeiros apostem na ação mais intensa do BC."

 

Uma das instituições financeiras que acreditam em um corte de 1,25 ponto percentual é o Bradesco. Na semana passada, o banco atualizou sua estimativa, que era de redução de 1 ponto percentual, por causa do recuo da inflação. Para 2017, a projeção é de que a Selic, que está em 11,25% ao ano, chegará a 8% ao ano.

 

O impedimento da reforma previdenciária na Câmara dos Deputados, por outro lado, poderia conter a redução da taxa básica, disse Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia.

"A votação deve acontecer antes do dia 31 de maio. Se [a reforma] for aprovada, aumenta a chance de um corte de 1,25 ponto percentual. Se isso não acontecer, o dólar deve subir e frear a redução da Selic."

 

Derrocada dos preços

O IPCA acumulado em doze meses foi o menor para abril desde 2007, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), que divulgou, ontem, os dados sobre a inflação. Também foi a primeira vez, desde agosto de 2010, que o índice ficou abaixo do centro da meta do governo (4,5%).

 

O resultado do mês passado contou com a ajuda das contas de energia elétrica, que ficaram 6,39% mais baratas. Segundo o IBGE, essa queda foi causada por decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que compensou "a cobrança indevida, em 2016, do Encargo de Energia de Reserva (EER) destinado a remunerar a usina de Angra III".

 

No acumulado deste ano, o destaque continua com a desaceleração nos preços de alimentos, depois do aumento expressivo nos primeiros meses de 2016. Em abril, entretanto, o grupo alimentação e bebidas registrou crescimento de 0,58%, em grande parte por causa dos avanços do tomate (29,02%), da batata-inglesa (20,81%) e da cebola (6,03%) durante o período.

 

Em nota divulgada ontem à tarde, o Itaú Unibanco indicou que o IPCA de maio deve avançar 0,5%, "o que resultará em novo recuo na taxa em 12 meses, para 3,8%". Ao contrário do que aconteceu em abril, a energia elétrica deve puxar o índice deste mês para cima. "[O aumento será] decorrente da reversão do efeito de Angra III", justificou o documento.

 

Na opinião de Balistiero, o IPCA deve terminar 2017 abaixo dos 4% se as reformas do governo forem aprovadas. "Nesse cenário, não há grandes riscos para os preços no curto prazo", apontou ele.


Em deflação

Os preços de três grupos caíram em abril. Transportes (-0,06%) foi influenciado pelos combustíveis (-1,95%), já que o litro da gasolina ficou mais barato em 1,75% e o do etanol, em 3,33%. Artigos de residência (-0,28%) e habitação (-1,09%), que foi favorecido pelo recuo da tarifa de energia, também tiveram deflação.

 

Além de alimentação e bebidas, outros componentes do IPCA avançaram no mês. Destaque para saúde e cuidados pessoais, com aumento de 1% causado pela alta de 1,95% em medicamentos, e comunicação, que subiu 0,55%.

 

No recorte por região metropolitana, os maiores aumentos do mês foram atingidos em Brasília (0,54%), Recife (0,49%) e Rio de Janeiro (0,38%). Já em Salvador (-0,22%), Campo Grande (-0,13%) e Belo Horizonte (-0,08%), os preços caíram. Entre janeiro e abril, o maior avanço foi visto em Fortaleza (5,86%) e a queda mais intensa, em Goiânia (2,3%).

 


Fonte: DCI São Paulo


 


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