São Paulo - Após a 'euforia' do brasileiro sobre o comportamento da economia e política após o impeachment de Dilma Rousseff os atuais indicadores de confiança do consumidor mostraram que o problema é mais sério. Na reta final do primeiro semestre, o sentimento generalizado de incertezas posterga a crise no País, e a solução ainda não é vislumbrada em futuro próximo.
Ontem, indicadores de confiança ministrados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Confederação Nacional do Comércio (CNC) e FecomercioSP apontam para a mesma sensação: a influência da crise política nos rumos da economia.
"A piora das expectativas em junho foi fortemente influenciada pelo aumento da incerteza após os eventos de maio e dos riscos de que estes possam impactar negativamente a economia. A Sondagem apurou piora das expectativas para o emprego e para as finanças familiares, o que, como em um efeito cascata, também reduzem o ímpeto para compras de bens duráveis nos próximos meses", detalhou a coordenadora da sondagem do consumidor, da FGV, Viviane Seda Bittencourt.
De acordo com o indicador da Fundação, a retração em junho, na comparação com maio, foi de 1,9 ponto, eliminando o avanço no indicador visto um mês ano. Na análise, Viviane ressalta que a "piora da confiança pode ser reflexo do aumento da incerteza política após 17 de maio", data em que vazaram os áudios de Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS e que comprometeu o presidente Michel Temer após um acordo de delação premiada com o Ministério Público.
O Índice da Situação Atual (ISA) registrou sua terceira queda consecutiva, ao passar de 70,5 para 70,1 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE), que havia se recuperado em maio, recuou 2,9 pontos, para 91,7 pontos. O indicador que mede as perspectivas em relação à situação financeira das famílias foi o que mais influenciou na queda do ICC em junho, com queda de 5,6 pontos em relação ao mês anterior, para 89,9 pontos.
Para o economista da CNC, Bruno Fernandes, a queda em junho mostra como está sensível a percepção do brasileiro sobre a economia, indicando que o caminho da retomada requer um nível maior de esta estabilidade. "As variações mensais mostram a fragilidade da confiança das famílias, visto o atual cenário em relação ao mercado de trabalho, com manutenção de uma taxa elevada de desemprego e baixo crescimento da renda", diz ele.
Em um recorte da cidade de São Paulo, principal termômetro econômico do País, a FecomercioSP também sinaliza um momento de dificuldade, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do município caiu de 3,3% na passagem e maio para junho, o pior dado em quase um ano. "A queda da confiança em relação ao futuro mostra a insegurança do consumidor em relação ao cenário político que se revela cada vez mais instável, com novos escândalos no governo, o que coloca em risco e aprovação das reformas necessárias", analisa a equipe da Fecomercio-SP.
Possíveis rumos
Quando o assunto é o futuro, poucos analistas arriscam um palpite. Em um cenário de continuidade de Temer, uma eleição indireta ou pleito direto, os analistas concordam que a saída não será fácil e nem rápida, mas quanto mais demorar para acontecer, maior será o estrago a ser revisto.
Para o setor, as entidades apostam em um faturamento similar ao visto ano passado.
Fonte: DCI