São Paulo - Em cinco anos o varejo brasileiro passou do mercado mais promissor do mundo para o penúltimo lugar em um ranking da consultoria global ATKearney. Para além da recessão, escândalos de corrupção e instabilidade política foram decisivos para o resultado.
Em 2013, o País era visto como o mais promissor do varejo global, e encabeçava a lista acompanhado do Chile e Uruguai, que ocuparam a segunda e terceira posição, respectivamente. De lá para cá, o Brasil enfrentou grandes manifestações populares, a saída forçada de um presidente e se viu envolto em uma investigação que se propunha a 'passar o País a limpo'. "A crise que o Brasil vive desde 2013 não tem precedentes, e é errôneo dizer que a culpa é só da economia. A culpa é também dos entes públicos, que derrubaram a confiança do consumidor, fez o varejo e a indústria desandarem e culminou nessa situação atual", narra o professor de macro economia e doutor em relações do varejo pela Universidade de Brasília, Emerson Loducca Neto.
A visão do acadêmico vem em linha com o estudo Global Retail Development Índex, publicado anualmente pela A.T. Kearney e que é um termômetro para investidores estrangeiros do varejo interessado em novos mercados. "Essa é a pior posição do País desde que entrou no ranking", informava o relatório. A lista, que mapeia as 30 nações mais promissoras já tinha o Brasil entre os dez piores ano passado, quando o varejo brasileiro ocupou a 21ª colocação. Na passagem para este ano, a resiliência da crise e a confiança continuamente baixa do consumidor culminaram com a penúltima colocação na lista.
Bola de neve
De acordo com a pesquisa, com todas as incertezas políticas e econômicas dos últimos dois anos, o varejo teve seu pior desempenho desde 2007, com queda de 4,8%. "Os setores de roupas e calçados foram bastante afetados. Pela primeira vez na história recente, o número de lojas que fecharam foi maior do que as que abriram – 18 mil estabelecimentos no total ou quase 15% de todas as lojas em shopping", relatava estudo, que citava também, como exemplo, que a gigante norte-americana Walmart fechou mais de 60 lojas no ano passado em solo tupiniquim.
Outro revés trazido pela recessão se deu com a saída de varejistas globais do mercado brasileiro. "Marcas internacionais com visibilidade limitada no Brasil, tais como Red Lobster, Ladurée, Cacao Sampaka, Vilebrequin, Kate Spade, bareMineralse Longchamp, fecharam as poucas lojas que tinham no país. A Sears, Bebee Aeropostale arquivou os planos de expansão no País", continua o estudo.
"O país está tomando um caminho lento e doloroso para recuperação. O presidente [Michel] Temer foi empurrando uma agenda impopular e muito necessária de reformas estruturais com a ajuda do Congresso. Para o controle dos gastos federais, o estado trabalha na responsabilidade fiscal e a reforma da previdência, que devem ajudar a conter a enorme dívida pública do país e restaurar a confiança dos investidores", detalha o texto da AT ATKearney, que cita também como fundamental para atrair novamente os investidores o avanço das propostas para simplificar as leis tributárias e maior controle da corrupção.
Luz no fim túnel
Apesar de um cenário ruim no curto prazo, estudo ainda mapeia pontos positivos no varejo, entre eles a expansão rápida dos atacarejos, formato que tem ganhado musculatura no País e representatividade em gigantes do varejo alimentar como o Carrefour e Grupo Pão de Açúcar. "GPA, por exemplo, planeja converter 15 a 20 lojas de hipermercado em atacarejos", ressalta o informe.
Além disso, o estudo ressalta a importância do e-commerce que ainda cresce rapidamente dentro do País com bastante apelo em todas as classes sociais. O destaque nesse segmento virtual ficou para os negócios firmados por meio de smartphones, que cresceu 90% nos últimos anos e deve avançar mais com a popularização do aparelho de celular com acesso a internet.
O início de 2017 foi também marcado por aquisições e novas entradas dentro do mercado brasileiro. "A Luxottica comprou Óticas Carole KIKO Milano abre sua primeira loja de maquiagem no Brasil", ressalta o relatório.
Outros fortes varejistas internacionais também estão expandindo. "Starbucks planeja triplicar o número de lojas no Brasil, e Sephora abrirá pelo menos quatro lojas em 2017".
No topo do ranking deste ano, a Índia e a China trocam posições e Índia assume a liderança pela primeira vez. A Ásia continua sendo uma força no varejo global e na expansão dos setores de Alimentos e Bebidas, Cuidados Pessoais, Moda e Luxo. Malásia, Turquia e Emirados Árabes formam os cinco países mais promissores, que dessa vez não conta com países da América Latina.
Fonte: DCI São Paulo