O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) subiu 1,5 ponto, no mês passado, e chegou aos 98,4 pontos. A melhora foi causada por uma perspectiva mais favorável da indústria de transformação e do ramo de serviços para a geração de novas vagas.
Em sondagens realizadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com os dois setores, foram notados avanços do componente "ímpeto de contratações para os próximos três meses". Na pesquisa com representantes industriais, esse item cresceu 4,2 pontos, enquanto que, no levantamento de serviços, a alta foi de 3,9 pontos.
Divulgado ontem pela FGV, o IAEmp voltou a subir após registrar quedas em maio e junho. Com isso, o indicador se manteve em patamar bastante elevado - no auge da crise, chegou a se aproximar dos 60 pontos.
"O nível atual mostra uma expectativa positiva para o futuro do emprego, já que serviços e indústria apontaram que pretendem contratar nos próximos meses", afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV).
Entretanto, essa melhora ainda deve ser tímida, diz o especialista. Segundo ele, os dados de emprego devem acompanhar as demais estatísticas econômicas, que seguem uma trajetória de "recuperação suave".
O indicador da FGV vem em linha com os últimos dados do mercado de trabalho. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou a geração líquida de 67,4 mil postos no primeiro semestre, o melhor resultado desde 2014. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou que a taxa de desemprego caiu para 13%, no trimestre encerrado em junho, depois de chegar a 13,7%, entre janeiro e março deste ano. Ainda assim, 13,5 milhões de pessoas continuam sem trabalho no País.
Piora em julho
Por outro lado, o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), também da FGV, subiu 0,7 ponto e chegou a 97,3 pontos, no mês passado. Para o ICD, o crescimento demonstra uma piora do cenário atual de emprego. No entanto, como essa foi a primeira alta do ano, a trajetória de 2017 "segue positiva", diz Barbosa.
Feito com base em uma sondagem realizada com os consumidores, o indicador teve seu aumento causado pelo grupo com renda familiar mais baixa, de até R$ 2.100. "Isso indica que as pessoas mais pobres demonstraram uma percepção pior sobre o mercado de trabalho no mês passado", explica o pesquisador.
Perspectiva otimista
Algumas áreas que têm destaque em 2017, como o comércio exterior e o agronegócio, também podem favorecer o mercado de trabalho nos próximos meses. É o que diz a pesquisadora Maria Andréia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
As vendas para outros países, afirma ela, devem "continuar ajudando" a indústria. "Ainda que o real tenha se valorizado, o que poderia ser prejudicial, a demanda mundial está boa. Exemplo disso é a exportação de carros para países da América do Sul."
De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas internacionais de veículos cresceram 42,5%, em julho, na comparação com igual mês do ano passado.
Ela também destaca o desempenho do agronegócio, ramo econômico com melhor desempenho em 2017. "Esse setor carregou o PIB [Produto Interno Bruto] do primeiro semestre e também pode trazer boas notícias nos próximos meses, com mais contratações". Parente lembra que ramos ligados ao agronegócio, como transporte e armazenamento, também sentem os efeitos da supersafra.
Para o setor de serviços, o quadro é menos animador. A pesquisadora cita os saques inativos do FGTS e a leve melhora da massa salarial nos últimos meses como "fatores positivos". Entretanto, ela afirma que é necessária uma situação melhor da economia para que haja uma criação considerável de novos postos de trabalho.
Impacto da reforma
Ainda que alguns elementos possam favorecer o emprego no curto prazo, Parente diz que é necessária uma melhora do quadro político para que o aumento das contratações tenha uma trajetória sustentável.
"Vai depender da leitura que os empresários farão sobre o País no começo do ano que vem. Se a situação estiver melhor, com menos instabilidade, é possível que o emprego tenha um avanço mais forte."
Sobre a reforma trabalhista, a entrevistada fala que as mudanças na legislação não devem causar uma "explosão de novas vagas". "Mas, no longo prazo, é possível que a lei mais flexível torne o mercado mais dinâmico e traga um aumento a ocupação no País", pondera.
De acordo com a Pnad, 90,236 milhões de pessoas tinham emprego no trimestre encerrado em junho. O número é melhor que aquele registrado entre janeiro e março deste ano (88,947 milhões), mas continua bem abaixo do patamar visto em 2014 (92,875 milhões), antes do início da crise econômica.
Fonte: DCI São Paulo