São Paulo - O Monitor do Produto Interno Bruto (PIB) interrompeu a trajetória de alta e voltou a cair no segundo trimestre do ano, em 0,24%, contra o primeiro trimestre (na margem), quando havia expandido 1%.
O indicador é calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). Apesar da expectativa de crescimento de 0,34% para este ano, os números recessivos da construção civil ainda são um entrave para uma retomada mais rápida da atividade econômica no País.
As incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência Social também colocam dúvidas sobre a trajetória da dívida pública e, caso essas mudanças não forem enderaçadas neste ano, a expectativa de alta de 2% para o PIB de 2018 pode ser frustrada, avalia o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Thiago Novaes.
Na comparação com o trimestre de 2016, o Monitor do PIB registrou queda de 0,3%, puxada, principalmente, pela retração de 5,1% no indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos). A construção civil teve um impacto de -4,6 ponto percentual no resultado, ao cair 9%.
O desempenho do componente de máquinas e equipamentos continua em patamar positivo (0,4%), porém contribuiu pouco para a melhora do indicador (0,1 ponto), destacou Claudio Considera, coordenador do Monitor.
Segundo ele, as quedas do PIB no segundo trimestre representam uma estabilização da atividade econômica, na medida em que são números "muito próximos de zero". "O Boletim Macro já vinha apontando que o crescimento do primeiro trimestre poderia dar uma falsa impressão de um processo mais forte de recuperação", destaca Considera.
"O maior problema está na construção civil. As grandes construtoras estão todas paradas. Os estados estão quebrando, então a demanda por novas obras por parte do setor público não existe. Esta é uma situação que ainda vai persistir por algum tempo", acresce.
Confiança abalada
Novaes, da Trevisan, comenta que os dados recessivos dos investimentos confirmam os motivos da economia não conseguir deslanchar. "Diferentemente do que o governo federal quer transparecer, as empresas ainda estão muito desconfiadas, principalmente as da indústria. Os dados de confiança são bastante modestos", afirma Novaes.
Para ele, esta resiliência indica que a atividade vai voltar a passos muito lentos. Ele destaca, por outro lado, a leve retração da taxa de desemprego de 13,7% nos três primeiros meses de 2017, para 13% no segundo trimestre. "Há uma geração de emprego mais constante. Parece ser uma tendência. Mas o Brasil ainda tem um déficit enorme [13,5 milhões de desempregados] nessa parte. Ainda temos muito chão para conseguir alcançar o que tínhamos há anos atrás", complementa o professor. Em 2013, por exemplo, a taxa de desocupação média anual alcançou 5,4% da população economicamente ativa (PEA).
Risco fiscal
Para Novaes, ainda não se pode contar com a projeção de crescimento de 2% da economia em 2018, como prevê o mercado no Boletim Focus do Banco Central (BC). Na sua avaliação, o desgaste político do presidente Michel Temer coloca em risco a aprovação de uma reforma da Previdência Social, ainda que fatiada.
"Se a reforma não for aprovada, teremos um problema relacionado com o crescimento brutal da nossa dívida bruta. Quando isso acontece, o governo se vê pressionado a aumentar as suas receitas, de imediato por meio da elevação de tributos. Isso prejudica cada vez mais a expectativa de uma recomposição do consumo das famílias", conclui o professor da Trevisan, Thiago Novaes.
Fonte: DCI São Paulo