São Paulo - Entre os membros do Brics, a Índia é o país com maior potencial para o crescimento econômico de longo prazo, afirmam especialistas consultados pelo DCI. Essa trajetória deve favorecer o intercâmbio de investimentos e as trocas comerciais com o Brasil.
Segundo os entrevistados, os aportes indianos podem acelerar já nos próximos anos. Isso porque o país deve se colocar entre os interessados nas privatizações brasileiras durante a viagem de Michel Temer à China.
"O investimento chinês será a prioridade da visita [de Temer]. Mas, em escala menor, a Índia também pode fazer parte dos negócios", afirma Oliver Stuenkel, coordenador dos MBAs em relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Na opinião dele, a Índia vive, hoje, situação semelhante à da China nos anos 1990. Naquele período, o gigante asiático começava a evolução que o levaria a ser uma das maiores economias do planeta. "Mas eles [indianos] têm um potencial ainda maior para o futuro, já que a população deve superar a chinesa e o sistema político democrático é mais estável", acrescenta Stuenkel.
Entre janeiro e julho de 2017, as exportações brasileiras para a Índia cresceram 74,25%, na comparação com igual período do ano passado, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Com isso, o país emergente chegou à sétima colocação entre os principais compradores do Brasil, superando o Japão, a Itália e outros parceiros comerciais de maior tradição.
Professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Orlando Assumção Fernandes diz que a Índia ainda está distante da "robustez chinesa", mas segue trajetória de aceleração econômica, enquanto que o Produto Interno Bruto (PIB) da China desacelerou nos últimos anos.
De acordo com as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia indiana vai crescer 7,2%, em 2017, e 7,7% no ano que vem. Para o PIB chinês, são esperados aumentos de 6,7% e 6,4%, respectivamente.
Banco dos Brics
Além das reuniões com autoridades chinesas, Temer vai participar, nos próximos dias, da 9ª Cúpula dos Brics. Segundo Fernandes, um dos pontos que interessam ao brasileiro é o uso do órgão de fomento criado pelos emergentes em 2014.
"O Banco dos Brics ainda tem uma participação muito embrionária. O Temer deve defender uma ação mais efetiva, semelhante à do BNDES, que possa auxiliar, inclusive, nos processos de concessões e privatizações anunciadas pelo governo federal no último ano", aponta o especialista.
Sobre a situação dos outros membros dos Brics, os entrevistados têm análise mais pessimista. "A economia da África do Sul e da Rússia está mal e os russos ainda estão envolvidos em conflitos geopolíticos. Por isso, eles não têm muito recurso para investir no Brasil", afirma Fernandes. Stuenkel, por outro lado, acredita que a Rússia poderá ser responsável por uma parcela pequena dos aportes que as privatizações brasileiras devem atrair.
Ambos afirmam que a participação do Brasil no grupo de emergentes se tornou mais relevante nos últimos anos. "Com juros menores, o banco dos Brics pode ajudar as estatais brasileiras endividadas", diz Fernandes. "Já que temos uma situação imprevisível nos EUA, os emergentes ganham maior importância no cenário global", afirma Stuenkel.
Fonte: DCI São Paulo