São Paulo - A indústria brasileira está finalmente consolidando uma trajetória de crescimento, que tem se alicerçado principalmente no consumo doméstico. Mas para obter um avanço mais intenso, o aumento do crédito é fundamental.
Na avaliação do economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, a expectativa de redução contínua da taxa básica de juros (Selic), acompanhada da queda da inflação, deve começar a se refletir nos empréstimos dos bancos no segundo semestre deste ano.
"As famílias terão mais espaço para consumir e isso trará um impacto positivo para a indústria", explica.
Para o economista do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil, Maurício Nakahodo, o risco de continuidade da restrição ao crédito existe, mas é menor do que no passado recente. "No segundo semestre, a expectativa é que os bancos passem a praticar juros reduzidos", acrescenta o economista.
Após um longo período de ceticismo, o mercado já trabalha com projeção de crescimento tímido da atividade industrial neste ano, interrompendo uma série de quedas sucessivas desde 2014.
"Esperamos uma taxa de crescimento positiva para a indústria neste ano, ainda que baixa. Os resultados dos últimos meses sugerem o estancamento da crise", pondera o economista do Iedi.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) que apontou avanço de 0,8% em julho ante junho, o quarto mês consecutivo de alta. Em relação a julho do ano passado, a produção teve expansão de 2,5% - a terceira na comparação anual. "Apesar do resultado, a disseminação do crescimento entre os segmentos estudados está aquém do desejado e a velocidade do avanço ainda é lenta", diz Cagnin.
Nakahodo também aponta a importância de uma disseminação maior do crescimento entre os segmentos da indústria, mas enxerga o avanço lento da atividade de maneira positiva. "Uma recuperação sem grandes picos tende a ser mais sustentável", pondera.
Avanço da atividade
De acordo com o IBGE, na passagem de junho para julho, 14 dos 24 ramos industriais apontaram crescimento. "Fatores como a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a redução da inflação contribuíram para uma melhora do poder de compra das famílias, impactando positivamente os segmentos ligados ao consumo", observa Cagnin.
Os economistas salientam que as exportações contribuíram para o avanço da indústria, mas que o mercado interno ainda terá papel preponderante nessa dinâmica. "A retomada da atividade industrial, ainda que tímida, deve vir majoritariamente pelo motor doméstico", complementa Nakahodo.
Na projeção do MUFG, a produção industrial deve avançar 0,7% neste ano, com viés de alta. Já o Iedi não traça projeções para a atividade (apenas faz um quadro analítico-qualitativo), mas Cagnin acredita que a indústria deve crescer próximo de 0,5%.
"O avanço da atividade industrial previsto para este ano não será suficiente para compensar a queda acumulada de quase 20% dos últimos três anos, mas traz um respiro na medida em que interrompe um ciclo negativo", assinala.
Fonte: DCI São Paulo