São Paulo - Uma série de quatro altas consecutivas da produção industrial foi interrompida em agosto, trazendo dúvidas sobre a magnitude da recuperação fabril brasileira, mesmo após o fim do pior momento da recessão no País.
"Recuperação está associada à uma sequência de resultados positivos, o que vinha ocorrendo com a indústria. Mas o desempenho de agosto joga um balde água fria", diz o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Indústria (Iedi), Rafael Cagnin. Segundo ele, no primeiro semestre fatores pontuais ajudaram no resultado de forma consolidada, tais como a super safra agrícola, a liberação de recursos do FGTS e a queda da inflação.
No entanto, para a segunda metade do ano, a preocupação reside sobre quais fatores vão impulsionar a produção. "O principal é a queda dos juros, mas a retração ainda não chegou de maneira consistente às famílias e às empresas", avalia, reforçando que este efeito será sentido de forma mais consistente apenas em 2018. "Principalmente para as empresas o crédito segue caro e escasso."
Em relatório, o Mitsubishi UFJ Financial Group destaca que a expectativa é de que em setembro possa ocorrer algum crescimento da produção. "Os estoques estão em níveis normalizados e este é um período em que a produção é mais aquecida para atender às vendas de fim de ano", escreveu.
Apesar do resultado em agosto pior do que o esperado, o banco aposta que a economia continuará crescendo no terceiro trimestre, beneficiada "pelo cenário de maior demanda interna e externa".
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial no Brasil recuou 0,8% em agosto sobre julho, na série com ajuste sazonal, resultado mais fraco desde março, quando a queda foi de 1,6%. No ano, a indústria soma alta de 1,5%, enquanto em 12 meses contabiliza recuo de 0,1%. Dessa forma, a indústria operava em agosto deste ano num patamar 17,8% abaixo do pico, registrado em junho de 2013. "A queda da produção em agosto foi concentrada em poucos grupos, mas de muita relevância. Não é um rompimento de tendência. Parece ser um movimento pontual e concentrado. A conjuntura não mudou", ponderou o coordenador da pesquisa no IBGE, André Macedo.
O resultado de agosto ante julho foi puxado negativamente pelo setor de alimentos, com retração de 5,5%, após três meses consecutivos de ganhos, devido principalmente à produção menor de açúcar. Na mesma comparação, outras quedas vieram da atividade extrativa (-1,1%) e de máquinas e equipamentos (-3,8%). De forma geral, oito dos 24 ramos pesquisados recuaram.
Em relação a agosto de 2016, porém, a produção avançou 4%, no melhor resultado para o mês nessa base de comparação desde 2010. O desempenho foi puxado pelo setor automotivo, com alta de 28,2%.
Fonte: DCI São Paulo