São Paulo - Nos últimos dois anos, a participação das 28 maiores redes de farmácias, no faturamento total do setor, ficou praticamente estável, fechando o último junho em 42,3%. A tendência, no entanto, é que com a retomada da economia o movimento de consolidação também volte a ganhar força.
As grandes redes deixaram de conquistar mercado principalmente por um motivo: a queda nas vendas de não medicamentos. Como os produtos de perfumaria representam uma fatia maior do faturamento dessas empresas, ante as independentes e associativistas (veja no gráfico), o impacto da retração da categoria atingiu em cheio as companhias, que são representadas pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
O efeito, entretanto, é passageiro. À medida que a crise chegue ao fim, as vendas dos não medicamentos devem retomar, impulsionando novamente o ganho de share. "O mercado brasileiro caminha em velocidade muito forte para o aumento da concentração. Passada a crise haverá uma alta maior na demanda por não medicamentos, acelerando o ganho de participação das grandes redes", diz o diretor-geral do Grupo GS & Gouvêa de Souza, Marcos Gouvêa de Souza.
A tendência de ganho de mercado, em volume de vendas, será impulsionada pela expansão forte das redes em número de lojas. Segundo estudo da QuintilesIMS, a participação das 28 maiores do no total de unidades subiu um ponto percentual de 2015 até este ano, para 9,5%. A expansão acelerada das grandes redes, tanto no físico quanto no digital, deve impulsionar o aumento da concentração. "Elas têm também maior acesso a crédito, condições melhores de negociação e capacidade de realizar aportes em tecnologia e logística."
As redes associadas a Abrafarma devem fechar este ano com 500 novas lojas abertas, segundo o presidente da entidade, Sergio Mena Barreto. O ritmo de aberturas será semelhante em 2018, sustentando a expectativa de aumento da concentração. "Se o cenário se mantiver o mesmo, é provável que a gente aumente a participação no ano que vem", diz.
O fato de o setor ainda ser muito pulverizado, e um dos menos concentrados do varejo, segundo Gouvêa de Souza, é outro aspecto que aumenta a expectativa em torno do ganho de share das grandes redes. Segundo o diretor geral da consultoria de varejo, um setor é concentrado quando as cinco maiores detém mais de 40% das vendas - quadro ainda distante do contexto brasileiro.
Nos Estados Unidos, por outro lado, o grau de concentração no ramo já é alto. "A tendência é que o Brasil caminhe para um cenário semelhante", diz. A perspectiva é compartilhada pelo presidente da Pague Menos, terceira maior rede do Brasil. Em entrevista recente ao DCI, Mário Queirós disse que vai acontecer no País o que ocorreu no mercado americano. "Vai haver uma consolidação. O nível de estrutura e o poder de barganha das grandes redes é muito superior."
Os fatores contribuem para uma diferença nas vendas médias das grandes redes, frente as independentes e associativistas. O estudo da IMS mostra que a venda média anual de uma loja de grande rede gira em torno de R$ 6 milhões, enquanto uma loja independente fatura R$ 500 mil e uma associativista cerca de R$ 1 milhão.
Associativismo
Apesar da diferença, o único formato que ganhou share no faturamento do setor nos últimos anos foi o associativismo, cuja participação subiu um ponto percentual. O modelo tem se tornado uma alternativa para as independentes, diz o diretor da Farmarcas, Paulo Roberto Costa. A empresa administra oito redes associativistas. "O modelo se profissionalizou e oferece ferramentas avançadas de gestão, além de garantir uma negociação melhor na compra de produtos."
Para Gouvêa de Souza, o crescimento do formato é uma resposta natural. "Há dois movimentos que caminham paralelos. De um lado as grandes se consolidando, e de outro as pequenas buscando no associativismo um caminho para sobreviver. Já a independência acaba sendo o buraco negro entre esses dois extremos", diz.
Fonte: DCI São Paulo