São Paulo - A inflação para as classes mais baixas deve voltar a superar os preços gerais em novembro. Apesar da expectativa de fechar o ano com inflação mais próxima de 2%, famílias com renda mensal de 1 a 2,5 salários mínimos devem sentir aumento gradual em 2018.
O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) de outubro ficou em 0,42%, aumento de 0,67 ponto percentual (p.p.) em relação à deflação de 0,25% registrada em setembro. No acumulado do ano até outubro, o indicador ficou com alta de 1,89% e, nos 12 meses, o aumento apurado é de 2,14%.
Usado para mensurar a inflação média das famílias com ganhos de 1 a 2,5 salários mínimos por mês, o resultado foi, ainda, 0,09 p.p. superior à variação observada na população com renda mensal entre 1 e 33 salários mínimos, registrado pelo Índice de Preços ao Consumidor - Brasil (IPC-BR) e que ficou em 0,33% no mês.
De acordo com o economista e coordenador dos índices de preços calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, mesmo que a "enxurrada" de reflexos negativos de outubro tenha sido pontual, o impacto do reajuste tarifário na energia elétrica ainda deve ser sentido na inflação de novembro.
"Como essa concentração de preços administrados não deve se repetir em novembro, é provável que vejamos uma desaceleração. Mas, por hora, ainda há chances de que o IPC-C1 supere o IPC-BR na base mensal porque os itens sensíveis pesam mais para os mais pobres", explica Braz.
Das oito classes de despesas avaliadas pelo IPC-C1, cinco mostraram variações positivas, sendo duas delas as linhas de maior peso para a população com baixa renda: Habitação (com +1,06% em outubro ante -0,33% em setembro) e Alimentação (0,31% contra -0,77% anteriores).
Nessas classes analisadas pela fundação, destacaram-se a tarifa de eletricidade residencial (de -2,72% para 4,16%) e hortaliças e legumes (de -7,88% para 11,04%).
Os aumentos também apareceram nas classes de Saúde e Cuidados Pessoais (de 0,03% para 0,21%), Comunicação (de -0,05% para 0,60%) e Despesas Diversas (de 0,27% para 0,49% em outubro). Os artigos de higiene e cuidado pessoal saíram de -0,50% para 0,08%, a tarifa de telefone móvel avançou de -0,14% para 1,49% e cigarros foram de 0,56% para 1,05%.
"O problema é que, mesmo com cigarros, hortaliças e telefonia não exercendo efeitos tão fortes em novembro, a população de baixa renda ainda não percebe queda na inflação por conta do desemprego. E esse cenário ainda deve repercutir por um tempo", analisa o economista do Ibre/FGV.
Da outra ponta, o Transporte - terceira despesa de maior peso para as famílias de baixa renda - mostrou variação negativa, saindo de 0,18% em setembro para -0,20% em outubro, com a influência de gasolina, por exemplo, que saiu de 2,95% para -0,01%.
Em seguida vieram Vestuário (de 0,63% para 0,07%) e Educação, Leitura e Recreação (de 0,37% para -0,08%), com recuo em roupas (de 0,95% para 0,17%) e passagem aérea (de 12,51% para -9,42%).
O especialista da FGV pontua que a expectativa é que o IPC-C1 mantenha uma sinalização de estabilidade para os próximos meses, "desacelerando, um pouco, da alta, mas sem voltar a ter taxas negativas". "Nos 12 meses, a inflação para os mais pobres ainda está bem menor do que a geral e a tendência é que siga assim. Enquanto o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] deve fechar em 3,1%, o IPC-C1 deve ficar próximo de 2%."
Vulnerabilidade
Os especialistas consultados pelo DCI ponderam que, mesmo com as sinalizações mais positivas e as indicações de aumento da inflação em todos os âmbitos com a melhora da atividade econômica, tais indicadores continuam "muito sensíveis" ao cenário político.
"O consenso é que o pior já passou, mas ainda estamos muito vulneráveis a erros políticos. A doença deixou de avançar, mas qualquer decisão equivocada no âmbito político ainda pode ser o suficiente para trazer aumentos bruscos", conclui o professor de economia da Fundação Escola do Comércio Álvares Penteado (Fecap), Eric Brasil.
Fonte: DCI São Paulo