Confiança do varejista só vai durar até a eleição

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Após três anos apoiando o otimismo – ainda que moderado – nas perspectivas futuras de melhora nos negócios, os varejistas brasileiros entraram em 2018 mais confiantes nos acordos a serem fechados no presente. O movimento, no entanto, deve durar até agosto, quando a corrida eleitoral ganha força e deixará em alerta lojistas e consumidores.

 

“O ano de eleição, tradicionalmente, é um período complicado para o varejo. As pessoas ficam atentas aos movimentos políticos na hora de decidir poupar ou gastar. Em um momento em que o País está tão polarizado, com certeza teremos uma fatia grande da população insatisfeita, independente do resultado das urnas”, antecipou o especialista em varejo e professor de comportamento do consumidor da Universidade Federal de Minas Gerais Federal (UFMG), Rodolfo Gallo.

 

Até lá, no entanto, o varejo tende a apresentar um crescimento mais sustentável que no ano passado, movimento que já pode ser sentido nos indicadores de confiança do setor.

 

Exemplo disso, ontem tanto a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), quanto a Fundação Getulio Vargas reportaram aumento na confiança do empresário varejista.

 

Na CNC, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) subiu 3,3% em relação a janeiro, indo a 113 2 pontos. "A leve melhora do nível de consumo, devido à queda da inflação, início do processo de recuo no custo do crédito e no desemprego, resultaram no aumento tanto do otimismo por parte do empresário quanto ao cenário atual", comenta o economista da CNC, Bruno Fernandes.

 

Ainda mais otimista, na FGV, o indicador de confiança do varejista atingiu em fevereiro o ponto mais alto dos últimos quatro [95,5 pontos] – em uma escala que vai de 0 a 200 e tem no 100 a diferença entre o pessimismo e o otimismo.

 

"Um aspecto positivo dos resultados do primeiro bimestre de 2018 é o expressivo avanço dos indicadores de satisfação com a situação atual, retratando um quadro de recuperação de vendas e margens", explicou o coordenador da Sondagem do Comércio da FGV IBRE, Rodolpho Tobler.

 

De acordo com o economista, embora tenha havido melhora no presente, (alta de 4,8 pontos do Índice da Situação Atual) o Índice de Expectativas (IE-COM) encolheu 4 pontos no mês de fevereiro, para 98,4 pontos, e o fato de ter ficado abaixo de 100 pontos aponta, segundo Tobler, que a recuperação continuará ocorrendo de maneira gradual.

 

“Esse quadro também sinaliza que o varejista precisará garantir bons resultados no primeiro semestre para uma eventual perda de receita no segundo semestre, que é tradicionalmente o melhor para o segmento como um todo”, completou Gallo, da UFMG.

 

Os dois pés nos chão

Após um longo período recessivo, em que o final ainda se mostra um nebuloso, há uma tendência do setor de jogar os investimentos, principalmente em mão de obra, para 2019.

 

Exemplo disso é a varejista de calçados e acessórios Outras Primaveras que, segundo o gerente geral, Rômulo Ramos, sentiu aumento no volume de vendas nos últimos meses, mas ainda não deve contratar. “Estamos avaliando a melhor forma de contratação, mas não devemos ampliar a força de trabalho por agora”, disse ele.

 

A loja, que fica na região da 25 de Março, no centro de São Paulo, não é a única a sentir melhora no fluxo, mas não converter em investimentos. “Tem lojas que precisam reformar o estacionamento, estoque e até banheiro, mas o proprietário ainda se mostra receoso. E quem é que não estaria?”, questiona ele.

 

De acordo com a CNC, 48,8% dos comerciantes consideraram o desempenho do comércio melhor do que há um ano, no entanto, 32,2% pretendem diminuir um pouco o número de funcionários ao longo do ano. (veja mais no gráfico).

 

Outra percepção positiva do empresário se dá quando o assunto são os estoques. Em fevereiro 25,9% dos entrevistados disseram que tinham mais produtos do que deveria, 1,6 ponto a menos que em janeiro. “Isso indica que a insatisfação quanto ao nível dos estoques vem caindo para a média histórica [24,8%]”, diz a CNC.

 

Para este ano, a entidade prevê expansão de 5% no comércio “puxado pela percepção de continuidade de menor pressão de preços no curto prazo, além da expectativa de recuo no custo do crédito e de recuperação do emprego e da renda ao longo do ano.”

 

Fonte: DCI São Paulo

 


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