Ao longo dos últimos meses, os resultados da atividade econômica têm sido decepcionantes, afetando negativamente a recuperação em diversos aspectos. O crescimento projetado do PIB para 2018 pelo Ibre, que chegou a ser próximo de 3%, possibilitaria um aumento do pessoal ocupado de 2,2% no ano e uma taxa de desemprego média de 11,6% em 2018 (com 10,5% em dezembro). A perda de dinamismo da economia levou a uma revisão do cenário para 2018, com redução do crescimento do PIB para 2,3%. Com isso, o crescimento do pessoal ocupado caiu para 1,8% no ano e a projeção da taxa média de desemprego em 2018 foi elevada para 11,9% (10,8% em dezembro). Ou seja, apesar de o mercado de trabalho reagir com certo atraso à atividade econômica, os dois estão intimamente relacionados.
O mau resultado do PIB divulgado ontem (crescimento de 1,3% em 12 meses) confirma um crescimento da economia aquém do esperado e deve significar uma queda ainda mais lenta da elevada taxa de desemprego doméstica do que a da revisão do cenário mencionada acima. O crescimento do PIB e a evolução no mercado de trabalho serão revistos mais uma vez para baixo.
Para piorar, a paralisação dos caminhoneiros deixa efeitos perversos sobre a recuperação do nível de atividade. Inexoravelmente, esse impacto atingirá o mercado de trabalho e deve gerar menor crescimento da renda e do pessoal ocupado e maior taxa de desemprego. O mau momento do mercado de trabalho deverá durar ainda mais.
Como já mencionado, a relação entre crescimento econômico e mercado de trabalho não é imediata. Apesar de nossa última recessão ter se iniciado em 2014, o mercado de trabalho ainda teve bom desempenho no ano. O crescimento de 0,5% do PIB veio acompanhado de uma expansão de 1,5% do pessoal ocupado e de queda da taxa de desemprego para 6,8%.
Mesmo com a queda do PIB, o pessoal ocupado se manteve em terreno positivo em 2015, com a PO crescendo 0,2% no ano. No entanto, a taxa de desemprego subiu para 8,3% e a composição piorou bastante, com as vagas formais sendo reduzidas em 739 mil vagas e a criação de 869 mil novos trabalhadores por conta própria.
Em 2016, segundo ano de queda de 3,5% do PIB, o mercado de trabalho não conseguiu manter o número de pessoal ocupado. Observou-se redução de 1,4 milhão de vagas formais e queda do pessoal ocupado de quase 1,7 milhão.
Apesar do crescimento de 1% do PIB em 2017, o pessoal ocupado se manteve estável, com queda da taxa de desemprego a partir do pico atingido em março (13,7%). Desde então, a economia criou mais de 1,5 milhão de vagas, com a grande maioria sendo de trabalhadores por conta própria, e com queda do emprego formal com carteira.
A expectativa ainda é de que o emprego formal volte a crescer em 2018. A aceleração do crescimento este ano seria a senha para uma recuperação mais robusta do mercado de trabalho brasileiro. O maior nível de atividade aceleraria as contratações formais, reduzindo a taxa de desemprego e o aumento da informalidade.
A divulgação recente de dados oficiais do PIB converge para um cenário de crescimento econômico mais lento. As revisões para baixo da expansão do PIB significam a ampliação do sofrimento dos desempregados e a postergação da melhoria das condições do mercado de trabalho em geral. Infelizmente, ainda que em queda, o desemprego persistirá como um problema grave no país ao longo dos próximos anos.
Fonte: Valor Econômico