As vendas do comércio em abril devem confirmar a continuidade de um cenário de recuperação da economia a passos lentos, avaliam economistas. Fortes vendas de automóveis devem garantir um bom resultado para o varejo no conceito ampliado - que inclui veículos e material de construção -, enquanto queda em supermercados pesa sobre os números do varejo restrito.
A média das estimativas de 24 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta para uma alta de 0,4% do varejo restrito na passagem de março a abril, feito o ajuste sazonal, após avanço de 0,3% no mês anterior. As estimativas vão de queda de 0,7% a alta de 1,3%. Na comparação anual, a média das expectativas indica queda de 0,4% para o varejo restrito.
Para o varejo ampliado, a média de 18 estimativas é de avanço de 1% na margem ou 7,1% em relação a abril de 2017. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC).
A consultoria Pezco calcula que o varejo restrito registrou uma queda de 0,6% em abril, na comparação mensal ajustada. "A queda na nossa leitura é reflexo do comportamento das vendas de supermercados", afirma o economista Helcio Takeda. A Abras, entidade que representa o setor, divulgou um recuo de 5,8% nas vendas em abril, em relação a igual mês de 2017. Pela dessazonalização da Pezco, isso representaria uma queda de 1,1% na comparação mensal ajustada.
Segundo Takeda, a baixa dos supermercados na comparação anual foi afetada pela Páscoa, que caiu mais cedo este ano, levando as vendas a se concentrarem em março. Uma parte desse efeito pode não ter sido retirada pela dessazonalização, resultando na queda na margem. A retração em supermercados deve superar o bom desempenho de outros segmentos, como móveis e eletrodomésticos, para o qual a Pezco estima uma alta de 2,3% na margem, como efeito da Copa.
Para o varejo ampliado, a consultoria calcula avanço de 1,5% na comparação mensal ajustada. A Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos, divulgou crescimento de 38,5% nas vendas em abril, na comparação anual. Segundo Takeda, isso se traduziria num avanço de 2,5% na base mensal ajustada. Além disso, a Pezco calcula alta de 0,5% para as vendas de material de construção.
Para o Itaú, os indicadores de abril deverão ser positivamente afetados por um número maior de dias úteis no mês - foram 21 em 2018, contra 18 no ano anterior. O banco calcula uma alta de 0,9% para o varejo restrito e de 1,7% para o ampliado, sempre na comparação mensal ajustada.
O Haitong espera alta de 2,1% para as vendas do varejo ampliado em abril, sob efeito de uma performance robusta do setor de veículos, o que, na visão do banco, é uma prova dos efeitos positivos do afrouxamento monetário sobre a economia. No entanto, o banco chinês projeta estabilidade para as vendas do varejo restrito, na comparação mensal ajustada.
"Assim, apesar de anteciparmos um bom resultado para o varejo em abril, não esperamos que seja um fenômeno generalizado, mas sim limitado - o que reduz a velocidade com que o país pode crescer", escrevem os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano.
Fonte: Valor Econômico