O Banco Central (BC) decidiu não sinalizar o que fará com a taxa básica de juros (Selic) nas próximas reuniões, devido às incertezas no mercado externo e à aproximação do calendário eleitoral.
É o que mostra a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, referente à reunião da semana passada, que decidiu manter a Selic em 6,50% ao ano. “Em termos de sinalização futura, todos concordaram que o maior nível de incerteza da atual conjuntura recomenda se abster de fornecer indicações sobre os próximos passos da política monetária”, disse o BC.
Na avaliação do coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero, a autoridade monetária está preferindo não se comprometer com nenhuma sinalização agora para impedir um estresse adicional no mercado financeiro.
“O Banco Central quer evitar o que aconteceu na reunião de maio, quando boa parte dos analistas apostava em um corte de 0,25 ponto na Selic, o que não aconteceu”, relembra Balistiero.
“Na ocasião, havia indicações claras de que a taxa cairia para 6,25%. Isso acabou criando uma expectativa que não se materializou. Dessa vez, portanto, o BC adotou um tom mais cauteloso, até porque as circunstâncias mudaram bastante”, reforça.
Para Balistiero, a comunicação mais cuidadosa da autoridade monetária está menos relacionada com os choques provocados pela greve dos caminhoneiros e mais com a aproximação das eleições, que ocorrem em outubro, e com o ambiente externo turbulento.
Sobre o cenário internacional, o BC cita a guerra comercial entre as principais economias do mundo e o processo de elevação das taxas de juros norte-americanos. “Diante desses fatores, é melhor a autoridade monetária não se comprometer sobre trajetória dos juros para evitar que o mercado fique em polvorosa”, enfatiza Balistiero.
Apesar de não indicar os próximos passos, o BC reafirmou, na ata, que as suas decisões dependerão da evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica.
‘Montanha-russa’
Ainda sobre os riscos, o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ulisses Ruiz de Gamboa, comenta que, dado o perfil dos candidatos à Presidência, ainda “poderemos ver uma montanha-russa no câmbio” e que, por conta disso, o BC está correto em ser mais cauteloso.
Na ata, a autoridade monetária afirma que, por enquanto, a disparada do dólar sobre o real não impacta de forma generalizada a inflação brasileira, por conta do elevado grau de ociosidade da economia. Para o BC, o País apresenta capacidade de “absorver revés no cenário internacional, devido à situação robusta de seu balanço de pagamentos e ao ambiente com inflação baixa no passado recente, expectativas de inflação ancoradas e perspectiva de recuperação”.
No entanto, os diretores do BC ponderam que o cenário pode mudar, caso ocorra uma “deterioração adicional do cenário para economias emergentes num contexto de frustração das expectativas sobre as reformas e ajustes necessários na economia brasileira”.
Para Balistiero, foi importante o BC ter esclarecido novamente – assim como no comunicado da semana passada – que os choques da greve dos caminhoneiros tendem a se dissipar a partir de julho. “A paralisação no setor de transporte de cargas no mês de maio dificulta a leitura da evolução recente da atividade econômica. Indicadores referentes a maio e, possivelmente, junho deverão refletir os efeitos da referida paralisação”, afirmou a autoridade monetária.
“A evolução da economia ao longo dos meses de julho e agosto deve indicar com mais clareza o ritmo da recuperação, que poderá se mostrar mais ou menos intensa. O cenário básico do Copom contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, embora em ritmo mais gradual que o estimado antes da paralisação”, complementou.
Em comunicado, o Itaú Unibanco disse que o Brasil terá, à frente, uma série de leituras de inflação e atividade bastante voláteis, devido à influência da paralisação dos caminhoneiros, o que deve gerar ruído nos dados. “Isso sugere que a autoridade monetária, provavelmente, não terá ainda como fazer inferências definitivas a respeito dos riscos para economia e a inflação em sua próxima reunião, que ocorrerá entre 31 de julho e 1 de agosto.”
Para o banco, com expectativas de inflação bem ancoradas e nível de ociosidade da economia alto, a projeção é que o aumento dos preços seja transitório e, portanto, que a taxa básica de juros permaneça inalterada até o fim do ano. “Mas o risco é de alta, não de corte”, alerta o banco.
Fonte: DCI