A atividade econômica deve avançar em um ritmo ligeiramente maior no segundo semestre em relação ao primeiro, refletindo parte das perdas da greve dos caminhoneiros e uma leve recuperação do consumo e dos investimentos.
É o que avaliam especialistas ouvidos pelo DCI. A economista da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, ressalta, por outro lado, que o aumento da desconfiança após os eventos de maio impactou de forma significativa as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) referentes aos próximos seis meses.
Se antes de maio a perspectiva era de que o PIB tivesse um avanço médio trimestral de 1% no segundo semestre, agora, essa previsão é de uma alta de 0,7%, na série dessazonalizada (trimestre contra trimestre imediatamente anterior).
“O que está por trás dessa redução de expectativa é o aumento da desconfiança gerada pela greve dos caminhoneiros. Este acontecimento evidenciou um governo fraco e, portanto, suscetível a choques semelhantes”, argumenta Ribeiro. “Tudo isso gerou uma percepção ruim dos agentes econômicos em relação ao País”, acrescenta.
Ainda assim, a tendência é que a atividade econômica cresça em um ritmo ligeiramente maior daqui para a frente. Enquanto a expectativa é de que o PIB tenha um crescimento médio trimestral de 0,3% no primeiro semestre, a previsão para o segundo é que essa alta chegue a 0,7%, segundo a Tendências. Para o ano fechado, a consultoria cortou de 2,8% para 1,7% a projeção de expansão para o PIB do País.
Já o economista da Pezco Economics, Helcio Takeda, conta que, no início do ano, sua previsão de crescimento para o PIB de 2018 era de 3,5%. Essa expectativa caiu para 2,7% depois da divulgação do indicador do primeiro trimestre – que registrou alta de 0,4% – recuando, por fim, para 1,7% após os eventos de maio.
Somente a projeção para o segundo trimestre diminuiu de 1,2% para 0,2%. “A greve teve um impacto importante sobre a confiança no restante do ano”, enfatiza o economista.
Takeda também estima que o PIB deve crescer em um ritmo maior daqui para a frente. A previsão dele é que o indicador avance 1% no terceiro trimestre em relação ao segundo – a projeção anterior era de 1,5%. Contudo, ele pondera que esse crescimento maior não pode ser entendido como uma aceleração da economia.
“Na verdade, a maior expansão do PIB no terceiro trimestre, em relação ao segundo, reflete o processo de normalização da atividade após a greve: com as indústrias voltando a receber insumos para a linha de produção; com o comércio voltando a receber mercadorias, etc”, esclarece Takeda. “No terceiro trimestre, a atividade já volta ao seu ritmo normal. Dá a impressão de um crescimento maior no período, mas, na verdade, é apenas o reflexo do efeito base de comparação”, complementa.
Sem motor
Takeda prevê, inclusive, uma desaceleração da economia no quarto trimestre. A estimativa é que, na margem, o PIB avance somente 0,5% nos últimos três meses do ano. “Não há nenhum drive [motor] que possa impulsionar a economia”, justifica o economista da Pezco.
“Vamos começar o segundo semestre com uma inflação rodando próximo a 4,30% [em 12 meses], sendo que várias categorias esperam um dissídio em torno de 2% a 3%. Essa situação acabará gerando uma perda real dos rendimentos”, acrescenta Takeda.
Ele comenta ainda que a depreciação do real em relação ao dólar deve chegar para os consumidores via inflação. “Fora isso, as agências de viagens, por exemplo, que esperavam fechar pacotes para o segundo semestre, terão a sua expectativa frustrada”, diz. O economista da Pezco pondera que a liberação do PIS/Pasep pode estimular o consumo.
Alessandra Ribeiro projeta, inclusive, uma alta de 2,7% no consumo das famílias, neste ano, refletindo o crescimento de 1% na ocupação e de 2% na massa total de renda. Além disso, ela espera que o crédito para pessoa física e jurídica continue registrando melhora ao longo dos próximos meses.
Segundo Ribeiro, o consumo, ao lado da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos), é o que irá garantir a expansão de 1,7% do PIB. Ela ressalta que os contratos referentes à importação de máquinas e equipamentos, realizados antes da disparada do dólar, irão ajudar no crescimento da FBCF que, segundo ela, deve alcançar 4,2% no fechamento de 2018.
Fonte: DCI