Desde a entrada em vigor da tabela de preços mínimos para fretes rodoviários, há 34 dias, os setores de soja e milho acumulam prejuízos de R$ 17 bilhões, segundo cálculo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Caso continue em vigor por mais dois meses, as perdas podem chegar a R$ 47 bilhões.
Para chegar a esse valor, a CNA levou em consideração o aumento do valor do frete – que chega a até 150% no caso da soja –, a perda de contratos, que deixam de ser cumpridos pelo aumento do preço do transporte, e as multas pelo atraso na entrega das cargas para exportação.
“Essa é uma estimativa conservadora”, esclarece a assessora técnica da comissão nacional de logística e infraestrutura da CNA, Elisangela Pereira Lopes.
Segundo ela, o tabelamento dos preços está previsto na Medida Provisória 832/2018, que tramita no legislativo. A tabela de preços publicada em maio também estabelece o pagamento do frete de retorno. Isso ocorre quando após a entrega de uma carga no porto o caminhão volta carregado com outro produto. No agronegócio, é comum o retorno com insumos como fertilizantes, por exemplo.
Com isso, o transporte de uma carga de soja sem frete de retorno chegou a aumentar entre 51% e 150%. Já com o frete de retorno, esse aumento alcança 40%, em média. “Só que esse frete de retorno não está acontecendo em todos os casos”, diz.
A mudança já reflete na queda dos volumes de entrega de fertilizantes. O recuo foi de 27,3% em maio sobre o mesmo mês do ano anterior. “Se em junho tivermos o mesmo atraso nas entregas, teremos em torno de 55% de queda acumulada no primeiro semestre”, afirma o diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), David Roquetti Filho. Os dados serão compilados no próximo dia 16.
A demora preocupa produtores, uma vez que o plantio da próxima safra, em setembro, pode ser prejudicado. “Caso ocorra um atraso no plantio da safra de verão, a safrinha do ano que vem poderá ser afetada” diz o presidente da Aprosoja Paraná, Marcio Bonesi.
Armazéns cheios
O preço mais alto dos fretes também tem deixado produtores com os armazéns cheios. “Em casos de produtores que têm silo e negociaram a soja antes da criação da tabela de fretes, as tradings estão adiando a retirada dos grãos devido ao aumento das cotações”, explica Bonesi.
A colheita da safrinha de milho já teve início em estados como Mato Grosso e deve ganhar força no Paraná nos próximos dias. “Não tem lugar para guardar o milho que vai entrar”, acrescenta o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira. Ele lembra que a logística representa 30% dos custos do produtor. “Se o Supremo não tomar uma decisão, o governo federal vai ter que interferir.” Ele argumenta que a elevação do custo deve impactar na cesta básica.
O impasse também prejudica o setor de rações, que tem o milho e a soja como principais insumos. O vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani, estima que a queda na demanda poderá ser superior a 3% neste ano sobre 2018, quando o volume chegou a 70 milhões de toneladas.
“É claro que outros fatores como os altos preços do milho no primeiro semestre e a queda dos valores pagos pela carne suína e de aves pesam, mas essas perdas se agravam com o tabelamento do frete”, avalia.
Para Elisangela, da CNA, a solução para o impasse seria limitar a idade da frota de caminhões. “Aqui, a média é de 18 a 20 anos, enquanto nos Estados Unidos ela é de 10 anos”, diz.
Segundo ela, a tabela de preços deveria ser somente uma referência. “Além disso, não deveria ter sido estabelecida multa [para quem paga valores diferentes do mínimo].”
Zani, do Sindirações, não vê soluções no curto prazo. Contudo, defende uma política de Estado para investimento em logística, principalmente em ferrovias e hidrovias.
Fonte: DCI