A retomada do varejo, esperada pelos empresários já para o Natal deste ano, ainda não deve acontecer. Com consumidores ainda receosos sobre o futuro, a data deve ser marcada pela cautela, tíquete médio baixo e busca por descontos, fatores que vão jogar, novamente, a recuperação do setor para o próximo ano.
Neste ano, as vendas ligadas ao período natalino devem somar R$ 53,5 bilhões, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). A cifra, que é 4,9% superior ao registrado ano passado, acompanhará apenas a inflação do período. “Percebemos um nítido de compasso de espera dos consumidores, até mesmo pela falta de definição no que diz respeito à implementação de políticas públicas para o comércio do futuro governo”, disse a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
De acordo com ela, mesmo com um resultado pouco pujante, a data ainda é a mais rentável para o varejo no País. “Saímos de uma grande recessão, mas ainda sentimos os efeitos da crise econômica, o que faz com que grande parte dos consumidores primeiro optem por realizar pesquisas de preço antes de comprar algum presente”, complementa.
Outro sintoma da postura mais conservadora com gastos por parte do consumidor está atrelada à intenção de compra de presentes. De acordo com um estudo no ano passado, o número de consumidores em dúvida sobre a possibilidade de comprar presente era de 6%. Neste ano a proporção saltou para 19% dos entrevistados pela Confederação.
Segundo o levantamento, 85% dos shoppers farão uma pesquisa prévia antes de ir às compras. Desse montante, 67% vão buscar promoções em sites e aplicativos de lojas. “Vemos o crescimento da figura da internet como grande aliada do consumidor na busca por preços menores e promoções”, disse Marcela.
No que diz respeito ao tíquete médio, o valor foi impulsionado – artificialmente pela inflação – de R$ 103 para R$ 115,90 entre os dois períodos anuais. Já a intenção compra caiu de 4,55 presentes por pessoa para 4,36 na mesma base de comparação.
Pé atrás
Cético com relação a retomada do varejo ainda este ano, o fundador da consultoria de varejo Inteligência 360, Olegário Araújo, avalia que a postura dos consumidores reflete os fatores macroeconômicos, como “desemprego alto e endividamento da população”.
Para ele, o ambiente mais favorável para o consumo deve ficar para o ano que vem. “Neste ano, os consumidores optarão por itens com o menor desembolso possível”, adianta.
Em linha com o comportamento cauteloso do consumidor, a diretora regional da rede de perfumarias Sumirê, Renata Minami, conta que as vendas em 2017 deixaram a desejar, mas pressões como a greve dos caminhoneiros e indefinições políticas e econômicas deste ano impediram uma melhora efetiva as vendas. “Tínhamos a ideia de que esse ano seria muito melhor, mas o setor sofreu algumas baixas. Vamos nos focar no aumento do tíquete médio, como por exemplo ações de ‘na compra de um produto, ganhe outro’”, afirmou Renata. Hoje a média de gasto por cliente fica em R$ 35.
Preparando o estoque para o Natal, Renata conta que os itens de maquiagens serão os mais buscados nas gôndolas, já que “Cerca de 95% dos nossos clientes são mulheres entre 19 anos e 50 anos”
Quem também está com o estoque pronto para receber os consumidores é a rede de varejo popular Armarinhos Fernando. Segundo o gerente da matriz da rede, Ondamar Ferreira, a expectativa é que o volume de vendas cresça entre 10% e 15%, este ano, com um tíquete médio de R$ 65.
De acordo com o executivo, o apelo promocional, que parece conquistar o consumidor, será substituído por reforço no atendimento do cliente e “ilhas” de produtos para estimular as vendas. “Optamos por não realizar promoções, pois já trabalhamos com um preço competitivo e margem baixa sobre cada produto.”
Os dois empresários aumentaram a força de trabalho esperando alta na demanda vindas do período natalino.
Fonte: DCI