Com a retração de 0,4% nas vendas do varejo restrito na passagem de setembro para outubro – a segunda seguida – a pressão dos empresários para fechar o ano no azul se concentra nos resultados da Black Friday e vendas no Natal. O medo, no entanto, é que a antecipação das compras natalinas no último dia 23 derrube o faturamento do setor no principal período para vendas.
De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou abaixo das projeções de analistas, que esperavam um resultado mais forte na entrada do quarto trimestre.
De acordo com a análise do Instituto, a pressão negativa das vendas se deu em função do comércio de livros, móveis e eletrodomésticos e de vestuário. “Esses itens tiveram peso determinante para o resultado, e a expectativa é que as vendas tenham sido convertidas na Black Friday ou fiquem para dezembro”, resumiu a professora de economia e especialista em comportamento do consumidor pela Universidade de São Paulo, Cecíla Mendes.
A especialista comenta, no entanto, que o faturamento do bruto do setor pode ser prejudicada, caso as vendas de itens de maior valor agregado tenham acontecido no último dia 23. “A Black Friday estimula o comércio pelos descontos. Se o volume de vendas sobe, mas o preço final é muito menor, isso prejudica a composição do faturamento bruto das empresas do segmento”, avaliou ela em entrevista ao DCI.
A gerente da pesquisa do IBGE, Isabella Nunes, comentou que as vendas de itens em supermercados e farmácias amorteceu a retração do setor. "As atividades que mais têm crescido são as de primeira necessidade. Já aquelas que dependem de crédito e financiamento andam patinando", disse a especialista.
Nem tudo está perdido
Apesar do tropeço no mês de outubro, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revisou para cima a previsão de alta no varejo no acumulado de 2018. Agora, a estimativa é que o setor avance 4,8% na comparação com 2017, ante aos 4,5% previstos inicialmente.
Para o chefe da Divisão Econômica da CNC, Fabio Bentes, um indício do resultado positivo é inflação sob controle, melhora do mercado de trabalho e gradual liberação de crédito.
“Houve queda em outubro, mas avanços na comparação anual” , ressaltou.
Segundo Bentes, as perdas não neutralizaram o avanço dos três últimos meses, já que, em agosto, o setor teve crescimento de 4,2% em relação a julho. “Nesse sentido, as quedas nos dois últimos meses sugerem ajustes pontuais no ritmo de vendas após o fim dos saques de recursos do PIS/Pasep, que injetaram R$ 10,1 bilhões no varejo”, afirmou o chefe da Divisão Econômica da CNC, Fabio Bentes.
A onda positiva, no entanto, não parece ter chegado aos setores de papelarias e livrarias, que registrou a maior queda mensal na série com ajuste sazonal (-7,4%) em outubro. “A sexta queda consecutiva no volume de vendas e a maior desde dezembro de 2014 (-7,3%), reflete a clara reestruturação do segmento com importantes players setoriais passando dificuldades financeiras”, disse ele.
Completam os destaques negativos, as vendas de móveis e eletrodomésticos (-2,5%), tecidos, vestuário e calçados tiveram (2%).
Vem, 13º
Outro argumento de Bentes para sustentar a projeção mais otimista para o Natal é a chegada da segunda parcela do 13º salário. Segundo estimativa da CNC, serão R$ 204 bilhões inseridos na economia na soma das duas parcelas, um aumento de 1,8% frente ao registrado ano passado.
De acordo com o estudo, dos R$ 90,6 bilhões que serão pagos na segunda parcela do 13º salário, R$ 41,3 bilhões (46%) deverão ser usados em curto prazo no comércio e R$ 21,1 bilhões (23%) servirão para o pagamento de dívidas. Os R$ 28,2 bilhões (31%) restantes deverão se destinar ao setor de serviços, gastos na quitação de obrigações de início de ano ou simplesmente poupados para consumo futuro. Em 2017, a segunda parcela do 13º salário totalizou R$ 88,9 bilhões (1,9% menos que neste ano).
Fonte: DCI