Cortejado pela comunidade financeira internacional reunida pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, o presidente Jair Bolsonaro não quer erros nem tropeços. Ele estreia a sua agenda no exterior com um discurso curto, porém objetivo - algo entre 10 e 20 minutos apenas - para “mostrar que o Brasil mudou”. Essa é a mensagem que pretende passar nesta terça-feira, em seu discurso na abertura do Fórum.
- Nós queremos mostrar, via nossos ministros, em especial, que o Brasil está tomando medidas para que o mundo restabeleça confiança em nós, que os negócios voltem a florescer entre o Brasil e o mundo, sem o viés ideológico - afirmou, em conversa com jornalistas na entrada do Hotel Seehof, onde se hospedou. — Farei um discurso curto, objetivo e claro. Vamos dar o recado mais amplo possível de um novo Brasil.
Ele ainda defendeu o agronegócio, “nossa commodity mais cara”, e disse que busca ampliar esse tipo de comércio. Perguntado sobre privatizações, foi mais reticente e disse que não deve anunciar casos particulares. Ele destacou que já existe um processo detalhado sobre o tema e que qualquer anúncio sobre o assunto ficaria a cargo do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Bolsonaro afirmou que o discurso foi “corrigido por vários ministros” para passar “o recado mais amplo possível de um novo Brasil".
- O importante é que o Brasil volte a crescer. O México, que costumava ser um dos queridinhos do mercado, mudou de governo. E a linha de esquerda de agora não é bem o que se gosta de ouvir por aqui — disse ao GLOBO um especialista que participará do Fórum e acompanha o Brasil há alguns anos.
Dúvidas de investidores
Bolsonaro terá reunião privada com o fundador do Fórum, Klaus Schwab, e ainda participará de reunião que interlocutores estão chamando de “ petit comité de diretores executivos”. Este inclui, entre outros, executivos de Google e Facebook.
Não faltam pedidos de encontros com Bolsonaro, que quer evitar uma agenda muito extensa. A Presidência não divulgou oficialmente a agenda de reuniões bilaterais. Mas estão previstos encontros com o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, o presidente da Polônia, Andrzej Duda, o primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis, e, possivelmente, o premier húngaro, Viktor Orban — todos conservadores.
Este ano, o Fórum sofreu diversas baixas, devido a crises locais. Donald Trump tem de resolver a paralisação do governo, e Theresa May está às voltas com o impasse em torno do Brexit. Já o francês Emmanuel Macron enfrenta a revolta dos coletes amarelos.
Depois de sair para jantar, um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, comentou os temas de relações internacionais que estariam no discurso desta terça:
— (Ele) Vai dar uma pincelada geral, fazer alusão ao comércio, sem viés ideológico. Isso implica tanto China quanto EUA, União Europeia, Mercosul. Quem tiver dinheiro para comprar nossos produtos, obviamente a gente vai vender. Mas não é fazer venda para a Venezuela, que é uma ditadura.
Para Nariman Behravesh, economista-chefe da consultoria IHS Markit, a presença de Bolsonaro em Davos é uma oportunidade para esclarecer quais são os planos do novo governo para a economia brasileira. As dúvidas dos investidores estrangeiros, segundo Behravesh, giram em torno de três pontos: como o governo pretende reduzir o protecionismo, encorajar investimentos e acelerar as privatizações.
‘Caldo de galinha’
O presidente em exercício, Antonio Hamilton Mourão, afirmou nesta segunda-feira que Bolsonaro, em seu discurso de abertura no Fórum, vai mostrar que não é “Átila, o Huno” — o líder das tribos bárbaras que atacaram o Império Romano no século V.
— O discurso do presidente vai ser em cima das reformas da área econômica, principalmente a da Previdência, e também para mostrar que ele não é Átila, o Huno. Ele é mais um brasileiro que nem nós — disse Mourão, contando ter trocado mensagens de WhatsApp com Bolsonaro. — (Ele) Mandou um “zap” aí, falando que chegou bem, que está tudo tranquilo.
Ao ser perguntado se havia recebido alguma recomendação, respondeu:
- Prudência e caldo de galinha.
Fonte: O Globo - Rio de Janeiro