Os crescimentos do consumo das famílias e dos investimentos serão de 2,6% e 4,6% neste ano, respectivamente. O baixo crescimento virá por incertezas e ociosidade, além da demora na aprovação da reforma da Previdência.
Os números já podem ser vistos, por exemplo, nos últimos dados do Monitor do PIB (Produto Interno Bruto), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Enquanto o consumo das famílias cresceu 2% em janeiro deste ano contra igual mês de 2018, os investimentos avançaram 3,8% na mesma relação.
De acordo com a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV Juliana Cunha, apesar de o cenário base da instituição ser de aprovação da reforma da Previdência, o momento ainda é de muita incerteza no cenário político e econômico do País.
“Quando você abre os dados [do Monitor], de todo o crescimento de consumo, 80% corresponde a serviços. E dentro dessa linha, o aluguel é o item que mais puxa essa alta. Os números são bons, mas vêm de pagamentos que não podem ser adiados”, explica.
De fato, enquanto serviços avança 3% em janeiro deste ano contra o mesmo mês de 2018, o consumo de produtos duráveis ficou estável, o de semiduráveis caiu 1,1% e o de bens não duráveis subiu 1,5% na mesma comparação.
Segundo o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) Guilherme Dietze, a explicação está na demora da retomada do mercado de trabalho brasileiro.
“O consumo tem a ver com o emprego, que ainda está difícil. Então ainda que supermercados e o consumo continuem crescendo, o aumento esperado em todo o comércio, por exemplo, ainda não acontece no curto prazo. Além disso, os bancos voltaram a reduzir o crédito, com os juros voltando a subir na ponta. É um sinal claro que a situação ainda não deve recuperação no curto prazo”, pondera o especialista.
O movimento, no entanto, faz parte de um ciclo. Para que o mercado de trabalho volte a reagir, os empresários precisam ter maior confiança para retomarem os investimentos. E para que isso aconteça, a espera ainda é por um ajuste fiscal.
“Existe uma precaução muito grande do empresário em investir em contratação, maquinário, equipamentos e estoques. E isso tem a ver com a falta de previsibilidade do País. As empresas só voltarão a investir com a aprovação da reforma”, acrescenta Dietze.
Investimentos
Neste cenário, no entanto, a pesquisadora do Ibre pontua que a maior parte do crescimento visto em janeiro (de 3,8% contra igual mês de 2018) acontece pela inclusão de plataformas de petróleo, que acabam afetando o número, “empurrando-o” para cima.
“Mesmo assim, o impulso dos investimentos em 2019 deve vir do parque industrial. Construção ainda demora porque depende muito do que vai acontecer. A expectativa do Ibre é de que enquanto o consumo cresça 2,6% em 2019, os investimentos avancem 4,6%”, avalia Cunha, da FGV.
Especificamente em investimentos, no entanto, a projeção de crescimento para 2019 já é menor do que o observado no acumulado de 12 meses até fevereiro: uma alta de 5,2% de acordo com dados da fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados nesta semana.
“Existe um tempo muito longo a ser caminhado para que tenhamos um crescimento mais significativo. Há muita capacidade ociosa para usar e mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada no meio do ano, como é esperado, os reflexos de retomada econômica não são imediatos. A expectativa é que vejamos um ritmo mais elevado de crescimento só no começo de 2020”, conclui Dietze da Fecomercio.
Fonte: DCI