O varejo brasileiro registrou alta de 3,9% no volume de vendas em fevereiro de 2019 ante o mesmo período do ano anterior impulsionada sobretudo pelo efeito calendário. Para especialistas, mesmo com o desempenho positivo, o avanço do setor pode ficar comprometido no terceiro mês do ano – uma vez que o carnaval de 2019 caiu em março.
De acordo com o coordenador da Sondagem do Comércio do FGV/IBRE, Rodolpho Tobler, o resultado apresentado pelo varejo em fevereiro mascara a real situação do varejo – tendo em vista que não houve influência do feriado de Carnaval – o que poderia promover revisão da postura tanto por parte do consumidor quanto para o lojista. “A partir de agora, deve ocorrer uma certa cautela em março, com um ritmo de crescimento um pouco menor do verificado e, fevereiro”, argumentou ele.
Ainda segundo Tobler, o consumidor vem adquirindo uma certa “impaciência” com o cenário econômico, o que tem minado o processo de recuperação do setor varejista. “Para ocorrer uma melhora real, é necessário que o mercado de trabalho reaja por meio de incentivos. Os efeitos dessa evolução devem ser observados depois do segundo semestre, principalmente em categorias de bens que são sensíveis mais dependentes de acesso ao crédito”, declarou Tobler.
Divulgada ontem (09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) apontou um avanço em fevereiro de 2019 sobre um ano antes de segmentos como veículos (19,4%); tecidos, vestuário e calçados (10,7%); artigos farmacêuticos (10,1%) e material de construção (9,3%). O único ramo que teve resultado negativo foi o de livros, jornais e revistas.
Nessa perspectiva, a gerente de pesquisa mensal de comércio do IBGE, Isabella Nunes, indicou que as atividades que apresentaram desempenho acima de 10% no volume de vendas foram os segmentos que melhor aproveitaram os dois dias a mais que o mês de fevereiro teve. “Essas são atividades que têm uma presença forte de itens relacionados ao período de pré-Carnaval e, por isso, registram impactos fortes no período”, complementou. Em relação ao setor de varejo alimentar e também de combustíveis, Isabella explicou que o desempenho foi menor em razão de uma “pressão de preços ocorrida entre o mês de janeiro e fevereiro”, declarou ela.
Na avaliação do sócio-diretor da GS&Malls, Luiz Alberto Marinho, a evolução real do varejo deve ser analisada de forma mais nítida ao longo do primeiro semestre. “Havia uma perspectiva de retorno mais rápido dos níveis de consumo e, por diversos fatores, isso não está se concretizando. As razões vão desde o atual nível de desemprego até o cenário político, que faz com que o consumidor fique mais cauteloso”, argumentou Marinho.
Questionado sobre os possíveis estímulos que o varejo pode ter para se recuperar, o especialista diz que os efeitos da sanção da Lei do Cadastro Positivo não devem ser verificados no curto prazo. “O Cadastro Positivo foi um importante dentro desse cenário. Mas seus efeitos devem ser sentidos muito mais no longo prazo com maior concessão de crédito aos consumidores”, disse.
Ainda de acordo com ele, a confiança do consumidor apresentou grande crescimento após a conclusão das eleições presidenciais, mas vem num processo de deterioração neste trimestre em função da falta de aplicação daquilo que o mercado esperava. “De todos os indicadores, a confiança do consumidor é um dos fatores mais importantes para a construção do clima econômico, sendo que está condicionada a aspectos como renda, emprego e acesso ao crédito”, complementou, lembrando que o número de pessoas na informalidade também tem efeito sobre as perspectivas em relação ao processo de recuperação econômica do País.
Com isso, de acordo com o último levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) apresentou recuo de mais de 5 pontos em março de 2019 – chegando ao o menor patamar desde outubro de 2018, 91 pontos.
Fonte: DCI