A economia do Brasil provavelmente encolheu 1,5% no primeiro trimestre, afetada pelo choque inicial da pandemia do novo coronavírus e indicando o que deverá ser uma recessão histórica, mostrou pesquisa da Reuters divulgada ontem.
Se confirmado, o trimestre de janeiro a março será o pior desde o segundo trimestre de 2015 (na comparação trimestre contra trimestre imediatamente anterior), ampliando as pressões sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro para lidar com os efeitos da crise de saúde em uma economia que já mostra dificuldades.
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) a serem divulgados na próxima sexta-feira devem mostrar recuo de 1,5% no primeiro trimestre em comparação ao trimestre anterior, de acordo com a mediana das estimativas de 38 economistas consultados entre 18 e 22 de maio.
As estimativas variaram de quedas de 0,9% a 10%, sendo que essa mais pessimista ficou longe da segunda pior estimativa na pesquisa, de contração de 3,4%. Em termos anuais, a mediana apontou recuo de 0,4%, o que seria a leitura mais fraca desde o quarto trimestre de 2016.
A contração esperada se deve à queda nos gastos dos consumidores e no investimento privado, enquanto os gastos do governo e a balança comercial devem compensar parcialmente, de acordo com respostas de perguntas separadas.
O segundo trimestre deve marcar a pior parte de uma recessão que provavelmente será a mais profunda da história moderna do Brasil e que durará um ano. Economistas esperam que a atividade econômica tombe 12,7% no período de abril a junho em termos anuais, o pior desempenho de todos os tempos.
“A quarentena e as medidas de distanciamento social tiveram um grande impacto nas vendas no varejo e nos serviços, com quedas de até 30% em alguns setores em abril e maio”, disse Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter.
Em uma indicação de que o governo pode estar subestimando o alcance do Covid-19, a pesquisa prevê uma contração de 6,3% do PIB em 2020 – contra projeção oficial de queda de 4,7%. A economia deve se recuperar em 2021, com crescimento de 3,5%.
Ainda assim, economistas permanecem cautelosos. “Como a curva de novos casos de Covid-19 no Brasil está mostrando poucos sinais de desaceleração, existe um viés de baixa em nossas estimativas para ambos os anos”, destacou Alexandre Lohmann, analista da GO Associados.
Na semana passada, o Brasil ultrapassou a Rússia e se tornou o segundo país com maior número de casos confirmados de Covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Dos 21 economistas que responderam a uma pergunta diferente, 14 mostraram-se divididos sobre verem risco “muito baixo” ou “baixo” de que a recessão se prolongue para 2021. Seis disseram que o risco é “alto” e outro disse ser “muito alto”.
“A maior questão continua sendo quão comprometidos o presidente e o Congresso serão com reformas estruturais diante dos desafios econômicos e sociais apresentados pela pandemia”, disse Felipe Sichel, estrategista do Banco Modal.
Fonte: Diário do Comércio