A deflação de 0,59% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de maio, a mais intensa desde o início do Plano Real, é reflexo do baque da economia com a quarentena deflagrada em meados de abril. O indicador negativo parece uma boa notícia por apontar que os preços ficaram mais baratos em relação a um período anterior. Na verdade, agora significa que a demanda caiu pelo medo ou falta de condições – que é o desemprego ou suspensão da prestação de serviços – de consumir. Por isso, as medidas de resgate econômico elaboradas pelo governo precisam ser bem dosadas e ativadas no tempo certo, considerando-se a expectativa de que haverá uma recessão avançando pelo próximo ano.
O IPCA-15 funciona como prévia do índice oficial da inflação, o IPCA, que será divulgado no próximo mês com dados dos 30 dias corridos de maio – na prática, os dois se diferem pelo período da abordagem (a coleta de preços do IPCA-15 vai do dia 16 de um mês até o dia 15 do seguinte). O IPCA- 15 se torna revelador porque é o primeiro indicador a considerar o comportamentosdos preços durante o isolamento social. É o caso da gasolina, que ficou 8,5% mais barata. Como há uma produção em excesso no mundo, em meio a um momento em que boa parte da população está trancada em casa, o preço caiu. Porém, o mercado se adequou às novas condições de consumo, cortando fortemente a produção, incluindo entre essas petroleiras a Petrobras. Por isso, o barril voltou a subir.
O combustível já está 12% mais caro, mas isso só deve aparecer no próximo IPCA e IPCA-15. Além disso, em maio, houve um aumento dos alimentos, mas nada exagerado, de 0,46%, porque o País anda com a produção agrícola em alta. Mas há deflação nos demais grupos, como habitação (-,027%), vestuário (-0,2%) e saúde e cuidados pessoais (-0,13%). Pelo menos, a população encontra esse alívio. Deve-lembrar que a modelagem do IPCA considera o consumo de famílias com renda familiar até 40 salários mínimos, portanto, mais abrangente, sendo utilizado pelo Banco Central para o regime de metas de inflação. Com este último, o BC calibra a taxa Selic como forma de segurar os preços ou expandir a economia.
No próximo mês, a tendência é que a Selic caia 0,75 ponto percentual, para 2,25%, um nível impensável até o ano passado. A intenção é tornar o dinheiro barato e estimular o consumo e o investimento neste período de pandemia. Alguns economistas acham que juros negativos, descontando- se a inflação, acabam, de uma forma psicológica, estimulando o poupador a guardar mais dinheiro. Trata-se da sensação de medo do que vem pela frente. É melhor aplicar o dinheiro sem remunerá- lo adequadamente do que investi- lo sob o risco de logo depois ficar desempregado. Por isso, dizse que essa estratégia do BC está desgastada. O jeito será o governo entrar com sua mão pesada, com mais ajuda aos setores combalidos.
Fonte: ATribuna