O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou ontem que o nível de 2,25% para a Selic não é algo “escrito na pedra” e reiterou que o BC está longe de um limite a partir do qual a redução dos juros perderia eficácia, razão pela qual pode continuar a fazer política monetária como usualmente.
“Não vi esse 2,25% como algo que foi escrito na pedra, algo fixo, que temos que ter em mente e não podemos cruzar”, disse ele, em inglês, ao participar de evento virtual promovido pela American Chamber of Commerce.
Hoje, a Selic está em 3% ao ano, e o BC já sinalizou, em suas últimas comunicações, um corte de até 0,75 ponto na reunião que acontece no dia 17, o que levaria os juros básicos à nova mínima histórica de 2,25%.
Kanczuk ressaltou que, na sua visão, este patamar é muito mais ligado à política monetária ótima focada no hiato do produto (ociosidade da economia) e no risco para a taxa neutra de juros, do que a um effective lower bound – nível de juros abaixo do qual a política monetária perde eficácia para estimular a economia.
O diretor ponderou que o BC ainda tem o mesmo panorama para a política monetária e, para sua próxima decisão sobre os juros, atualizará seus números.
Ainda em relação à discussão do effective lower bound no Brasil, ele disse que este não é o melhor nome para descrever o que aconteceria no País, uma vez que o termo sugere que, ultrapassado um determinado limite, algo muito diferente seria acionado, como mudança de direção da política monetária.
Para Kanczuk, abaixo desse limite – que é dinâmico e varia conforme as premissas levadas em conta para seu cálculo – a Selic mais baixa ainda implicaria inflação mais alta, parte via canal do câmbio.
“A questão aqui que o Banco Central está preocupado tem mais a ver não com inflação, mas com estabilidade financeira e como depreciações muito grandes podem machucar o crescimento e especialmente as empresas que não têm um hedge perfeito”, afirmou ele.
Estabilidade financeira
Para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), Kanczuk afirmou que o BC avaliará se há problema de estabilidade financeira, em um momento em que mercados estão mais calmos e que o nível do dólar sobre o real se tornou uma questão menor.
Diante do quadro, ele afirmou que o BC tem que se preocupar mais com o balanço entre o hiato do produto, com o esfriamento intenso da economia, e o risco para taxa neutra, em meio à aceleração dos gastos para enfrentamento à pandemia de Covid-19.
“Da última reunião para agora, é justo dizer que o crescimento parece ser menor, depressão maior do que antes. Por outro lado, a expansão fiscal também parece maior do que a que tínhamos antes, a gente tem visto como os mercados têm mudado suas perspectivas de dívida sobre PIB, que têm crescido muito, isso força a taxa neutra para cima”, disse.
Fonte: Diário do Comércio