Auxílio emergencial foi a única renda da população mais pobre, mostra FGV

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O auxílio emergencial foi praticamente a única renda da população mais pobre do país. A conclusão faz parte de um levantamento feito pelo pesquisador Daniel Duque, da FGV/Ibre, a partir de dados da Pnad Covid, do IBGE. Em junho, entre os 10% mais pobres, o benefício voltado para informais correspondeu a 97,2% de toda a renda domiciliar per capita.

O número mostra o impacto que o pagamento de R$ 600 teve na sustentação da renda dos mais vulneráveis, em meio a crise econômica provocada pela pandemia. Entre os mais de 21 milhões de brasileiros neste grupo, a renda domiciliar com auxílio foi de R$ 271,93. Sem a ajuda do governo, essa quantia cairia para R$ 7,15 por pessoa.

"Isso mostra que há uma dependência da população mais pobre em relação ao benefício", destaca o pesquisador.

O auxílio tem funcionado como uma espécie de colchão na renda das famílias, principalmente entre os mais vulneráveis. Entre os 20% mais pobres, o fenômeno se repete: de R$ 151,20 para R$ 376,39. Na média, o aumento da renda domiciliar é de 10%.

Dados do IBGE indicam uma focalização do programa. O auxílio emergencial atingiu cerca de 80% dos domicílios duas primeiras faixas de renda e cerca de três quartos dos domicílios da terceira faixa. Ao todo, 29,4 milhões de domicílios receberam apoio em junho, com o benefício médio de R$ 845.

Duque afirma que o impacto do auxílio na renda dos mais pobres é inédito. Além do valor alto, na comparação com o Bolsa Família, parcela dessa população ficou sem a renda do trabalho que possuíam, em grande parte oriunda de postos informais no comércio e serviços, os mais impactados na pandemia.

Dados da Pnad Contínua, do IBGE , mostram que entre abril e junho, mais de 8,9 milhões de pessoas perderam o emprego, na comparação com os três primeiros meses do ano.

"Chama atenção, pois o Bolsa Família não correspondia a algo nem próximo disso, desse percentual quando existia o auxílio, correspondia a 30, 40% dos 10% mais pobres", ressalta.

Há ainda famílias que os tiveram ganho de renda no período. Ou seja, recebem mais agora do que antes da pandemia. Cruzamento de dados do Bolsa Família e do Auxílio Emergencial ajudam a entender isso.

Para os mais de 13 milhões de beneficiários do Bolsa Família em março, a renda familiar em cinco meses é o equivalente ao recebido em dois anos e meio, passando de R$ 190 por mês para R$ 1.128 em média.

Além disso, entre maio e junho, a renda do Auxílio Emergencial foi maior do que tal perda da renda do trabalho para os 50% mais pobres do país.

Na avaliação do pesquisador, o país necessita pensar em uma transição do benefício, diante de um mercado de trabalho ainda fragilizado. Caso contrário, verá a redução do poder de compra dos mais pobres, além do consequente aumento da pobreza e da desigualdade

Estudo do Centro de Estudos da Metrópole ( CEM ), com base em dados de junho da Pnad Covid, mostrou que, sem o auxílio, 29,8% dos brasileiros entrariam na pobreza.

"Acabando (o auxílio) e não colocando nada no lugar, vamos ter realmente uma redução do poder de compra da população mais pobre muito forte", alerta.

Pesquisas do IBGE apontam que o auxílio emergencial tem ajudado alguns setores a esboçarem recuperação, como o varejo, com as vendas de materiais de construção e em supermercado.

A despeito do modelo a ser colocado, Duque afirma a queda na renda das famílias mais pobres irá ocorrer, diante da limitação da manutenção do pagamento de R$ 600 por mais tempo.

Hoje, o gasto com apenas um mês de folha do Auxílio Emergencial se aproxima do valor especulado para o Renda Brasil, programa que deverá substituir o Bolsa Família, cujo custo estimado gira em torno de R$ 55 bilhões.

"Será um desafio gigantesco, mas não há nenhuma possibilidade de evitar uma perda de renda dos mais pobres no pós-auxílio", afirmou.


Fonte: IG  


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