O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro deixou claro que a inflação continua bastante comportada. Divulgado ontem, o indicador registrou alta de 0,28%, a menor variação para um mês de outubro desde 2000. Houve uma aceleração em relação ao 0,24% do mês anterior, que se deveu principalmente à alta dos combustíveis, de 1,74%, e de itens do grupo transportes, como automóveis novos (1,08%). Em 12 meses, o IPCA passou a acumular variação de 4,17%, a menor taxa em dois anos, inferior ao centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%.
O analista Francis Kinder, da Rosenberg & Associados, diz que o IPCA de outubro mostrou um panorama bastante tranquilo para a inflação. "Foi o quarto mês seguido em que o índice ficou abaixo de 0,3%, um patamar bastante confortável." Segundo ele, isso confirma a "ausência de pressão inflacionária neste ano".
O economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada, também vê um quadro dos mais benignos para a inflação. Ele nota que o índice de difusão (o percentual de itens que registraram alta) caiu de 54,2% em setembro para 52,6% em outubro, um nível bem menor que os 62,2% do mesmo mês de 2008. Esses números deixam claro que não há pressões inflacionárias generalizadas.
Outro sinal positivo sobre a inflação é o comportamento dos núcleos do IPCA, como o de médias aparadas com suavização, que exclui as 20% maiores altas e baixas e dilui as variações dos preços administrados ao longo de 12 meses. O indicador teve alta de 0,31% em outubro, abaixo dos 0,39% no mês anterior. O núcleo calculado pela exclusão de preços administrados e alimentos, por sua vez, subiu 0,34%, muito próximo da elevação de 0,35% de setembro.
Kinder e Barbosa ressaltam também o desempenho favorável dos preços de serviços (como cabeleireiro, aluguel, mensalidades escolares e conserto de automóvel) em outubro. As cotações avançaram apenas 0,22%, exibindo uma forte desaceleração em relação ao 0,36% do mês anterior. Muitos analistas consideram os preços de serviços o maior risco para a inflação, por serem muito dependentes do emprego e da renda, num momento em que o mercado de trabalho está bastante aquecido.
Em outubro, os preços da gasolina subiram 1,06% e os do álcool, 10,61%. Segundo Barbosa, "a valorização acima da sazonalidade do álcool combustível é resultado da retração da oferta, associada às chuvas excessivas sobre as regiões produtoras a partir de agosto". Ele observa que isso impacta também as cotações da gasolina porque o álcool anidro tem peso na composição do "produto utilizado pelo consumidor".
Os preços de carros novos tiveram alta mais forte porque em outubro começou a elevação gradual da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos. As cotações desses produtos tendem a continuar a subir até o fim do ano, pois as taxas do IPI vão subir também em novembro e dezembro. Esse foi um dos principais motivos que levaram o grupo de bens duráveis a subir 0,42% em outubro, como apontam os analistas do Bradesco.
Barbosa aposta num cenário tranquilo para a inflação nos próximos meses. Ele prevê que o IPCA ficará em 4,2% neste ano e também no próximo. Para Barbosa, o BC só vai aumentar os juros em setembro do ano que vem, para manter a inflação de 2011 sob controle. Kinder vê o IPCA em 4,4% em 2009 e em 4,6% em 2010, projetando alta da taxa Selic apenas em 2011. É possível que nos próximos meses os preços dos grupo alimentos e bebidas, que caíram 0,09% em outubro, comecem a subir, mas não se esperam reajustes exagerados.
Veículo: Valor Econômico