Euromonitor Internacional projeta o dobro do crescimento do macarrão instantâneo em relação à massa seca
Vendido por menos da metade do preço das massas secas, o macarrão instantâneo – popularmente conhecido por miojo – vai ganhando espaço na cesta de compras do brasileiro, que busca alternativas para o bolso mais apertado. Dona das marcas Adria, Vitarella e Isabela, a M. Dias Branco viu o volume de vendas desse produto crescer 35% de janeiro a abril, quando comparado ao mesmo período de 2021. Já a Nissin, líder desse segmento, está ampliando o portfólio.
Dados da consultoria de consumo Kantar mostram que, em 12 meses acumulados até abril, as unidades vendidas de massa instantânea cresceram 1% enquanto todos os outros tipos de macarrão tiveram queda. O maior recuo em unidades é justamente o da massa seca tradicional, como o espaguete, por exemplo: queda de 0,5%.
“Massa instantânea tem preço médio e valor percebido mais baixos. Está acontecendo uma troca diretamente da massa tradicional para consumir massa instantânea”, diz Beatriz Loureiro, gerente sênior de contas da Kantar. De acordo com a consultoria, o preço por unidade da massa instantânea é 53,2% mais barato que o da massa tradicional.
O miojo ganhou 2,1 pontos percentuais de lares, para 91% das casas brasileiras, enquanto a massa tradicional seca se mantém estável, recuando 0,1 ponto percentual de penetração, sendo comprada em 83% dos lares. “Massa instantânea deve continuar crescendo por vir como alimentação para a família inteira por um preço mais baixo e também pela praticidade”, acrescenta Loureiro.
Durante o primeiro ano da pandemia, a receita da categoria cresceu 13,9% em 2020, acima dos 8,5% de massas secas, um reflexo do isolamento social, aponta a consultoria de consumo Euromonitor. Em 2021, a receita das vendas das massas secas cresceu em ritmo mais intenso, 11,6%, para R$ 7,84 bilhões, acima dos 9% do miojo, para R$ 3,06 bilhões.
“Em 2022 notamos que o crescimento deve ser maior que o registrado em 2021 devido à queda do poder de compra do consumidor e à escalada inflacionária. As pessoas estão substituindo refeições completas por macarrão instantâneo, que é mais barato”, diz Mikaely Correa, analista de alimento e nutrição na Euromonitor International. A projeção é que as vendas, em valor, do macarrão instantâneo cresçam 7,2% ante de 4,2% de avanço das massas secas no Brasil neste ano.
O ambiente inflacionário favorece as vendas da categoria. Essa também é a percepção do diretor de marketing da Nissin Foods no Brasil, Yosuke Kawai. A empresa, que já é a maior fabricante de macarrão instantâneo no Brasil, com mais de 60% do mercado, segundo a Euromonitor, resolveu ampliar seu portfólio. Além dos miojos de saquinho e em copo, com sua marca Cup Noodles, a empresa lançou agora o Nissin UFO, um yakissoba que precisa só de água quente para preparo e vem em embalagem que serve como uma espécie de tigela, um modelo já comum no Japão, país de origem da fabricante.
Segundo Kawai, o mercado de macarrão instantâneo cresceu 20,4% no Brasil nos últimos cinco anos. Já a linha de copos cresceu 166,2% no mesmo período. Apesar desse desempenho, a linha de copos é responsável hoje por 6% da participação da empresa no mercado de macarrão instantâneo no país. No Japão, esse percentual chega a 66%, o que mostra que há espaço para destravar crescimento na categoria, diz o diretor.
O UFO, que chega agora aos supermercados, tem preço médio de R$ 6,99, acima dos R$ 4 e R$ 2 do copo e da embalagem tradicional, respectivamente. São três sabores: carne com molho japonês; curry indiano; e legumes com molho oriental. “O macarrão instantâneo tem a característica de ser acessível. O UFO é mais caro, mas é uma refeição mais completa. Unimos preço acessível e refeição completa”, diz o executivo. O produto varia de 95g a 97g por unidade.
A fabricante de massas M. Dias Branco também tem observado um crescimento da massa instantânea em patamar acima da média da indústria de alimentos também no curto prazo. De acordo com o diretor de marketing, Fábio Melo, a empresa se consolidou como a segunda maior fabricante com 8,3% de participação de mercado. De janeiro a abril, além do volume ter crescido 35%, o valor saltou 56,8%, em comparação ao mesmo período do ano anterior, diz o diretor citando números da Nielsen IQ.
“Esse mercado atende a inúmeras necessidades e perfis de consumidores e entrega uma equação de valor muito interessante. É uma refeição bastante democrática e acessível, tem preparo simples e prático”, diz o diretor. A fabricante tem versões de macarrão instantâneo das marcas Vitarella, Adria, Isabela, Fortaleza e Richester.
O crescimento de demanda também tem vindo com aumento de custos. Kawai, da Nissin, cita os preços mais elevados do trigo e do óleo de palma no acumulado do ano. Esses insumos começaram a dar sinais de recuo em junho, segundo levantamento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), mas ainda estão em patamares altos.
“A situação atual é muito difícil. Por isso temos trabalhado para manter o produto acessível. Temos buscado ganhar eficiências no processo produtivo, como aumentando o número de fornecedores”, diz ele. A Nissin tem duas fábricas no Brasil, uma em Ibiúna (SP) e outra em Glória do Goitá (PE).
Melo, da M. Dias Branco, diz que a empresa tem “algumas fortalezas e vantagens competitivas” por sua escala, pela cadeia verticalizada e pelo portfólio de mais de 20 marcas, “que navegam em faixas de preço e perfis de consumidores distintos”. Para lidar com esse cenário de custos no entanto, além de tentar “preservar preços, a companhia tem feito embalagens de maior volume.
A indústria vem reajustando preços. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o macarrão instantâneo ficou 23,14% mais caro neste ano, até junho, enquanto a inflação do item macarrão subiu 18,60%. Procurada, a Selmi, dona da marca Renata, não se pronunciou. A empresa está entre as três maiores em valor de vendas de macarrão instantâneo segundo a Euromonitor. A Nestlé, dona da marca Maggi – que também era uma das maiores em vendas -, diz que a companhia tirou o item de linha entre 2018 e 2019.
Fonte: Raquel Brandão, Valor