Tudo indica que os presentes do Dia das Mães vão ficar mais caros este ano, por causa da pressão inflacionária acarretada pelo aumento dos gastos do governo e devido à possível alta da taxa básica de juros que deve acontecer no próximo mês, afirmam economistas ouvidos pelo DCI. Apesar disso, a expectativa do comércio é de que a data traga crescimento superior a 10% nas vendas em 2010, e de que nas grandes redes a concorrência deve segurar, em parte, o repasse do custo dos produtos ao consumidor final.
É o que afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Marcel Solimeo. "O varejo é extremamente competitivo, e com o aumento de demanda pode até haver alguma alta nos preços. No entanto, a disputa entre as grandes redes é muito grande, e assim, mesmo que haja um percentual pequeno de aumento, ele não será sentido pelo consumidor e as vendas continuarão em alta durante todo o ano", afirma. "Nesse caso elas tendem a não repassar totalmente ao consumidor uma possível alta. A concorrência amortece isso", conclui o economista.
De acordo com Solimeo, o varejo tem-se antecipado à possibilidade de alta da taxa básica de juros nos próximos meses, para suavizar o impacto das negociações com os fornecedores e com os clientes. "Não vejo prejuízo nas vendas, porque na prática o mercado já se antecipou [à alta]". Outro motivo de manutenção dos níveis de consumo, diz o especialista, é a questão política: "Se houver alta nos preços, ela pode reduzir o consumo, mas como este ano é eleitoral acho que o governo deve ter muita cautela com isso".
Para o economista da Associação Comercial, o comércio deve fechar o ano com crescimento acima do do Produto Interno Bruto (PIB) e encerrar o ano 8% maior do que no ano passado, contra previsão de crescimento de 5% do PIB.
Outro que vê a possibilidade de alta dos preços no segundo trimestre é o professor Cláudio Felisoni de Ângelo, do Programa de Administração do Varejo (Provar), que enfatiza a importância do Dia das Mães para a receita das redes varejistas. "O Dia das Mães é a segunda melhor data do ano para o comércio inteiro. Mas este ano teremos uma situação mais difícil na hora de repor os estoques por causa da possibilidade de alta da Selic no próximo mês", diz o professor. Ele afirma: "Se [a Selic] subir, é capaz que os produtos fiquem mais caros, ou seja, vai ter alta dos preços até o Dia das Mães, se houver alta dos juros".
Mesmo com uma possível inflação no segundo trimestre, as vendas para a data não devem ser prejudicadas e tendem a crescer acima de 10% sobre as registradas no mesmo período de 2009, valor duas vezes maior do que a média do ano passado, quando as vendas tiveram alta de 5%. "Qualquer varejista sabe que não pode perder as vendas na data. Só no segmento de
eletroeletrônicos, a demanda corresponde a quase dois meses de vendas para as lojas."
Segundo o professor, a tendência é as lojas este ano fazerem promoções e descontos com o alinhamento dos dois principais geradores de venda do comércio no primeiro semestre: Copa do Mundo, com promoções verde-e-amarelo e descontos atraentes para compra de aparelhos de televisão para as mães. "Como este ano é atípico, existe uma razão dobrada para vender produtos com a associação das duas datas [Dia das Mães e Copa do Mundo]", conta Felisoni.
Preços
Em São Paulo, os preços dos eletrodomésticos tiveram alta de 0,54% em fevereiro, na comparação com janeiro, de acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio -SP), que em geral apresentou inflação de alta de 0,28% no mês passado. Em 2010, os preços já subiram 0,91% segundo o indicador. Em um ano, a variação foi de 1,79%.
Para a assessora econômica da Fecormércio, Júlia Ximenes, ainda é cedo para falar sobre inflação. A economista, porém, considera possível a hipótese de reajuste de preços nos próximos meses, devido à recomposição dos valores das mercadorias em alguns segmentos do comércio. "Considerando que essas datas são boas para comprar novidades, é capaz que a demanda aquecida da Copa tenha impacto nos preços, mas ainda é cedo para avaliar", conta.
Quanto à alta do valor de eletrodomésticos em fevereiro, Júlia acredita que aconteceu por causa da redução dos estoques, por causa das liquidações de janeiro e por revisão de preços.
Veículo: DCI