Recursos de R$ 40 milhões vão equilibrar oferta durante a safra cheia.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, anunciou nesta quinta-feira a liberação R$ 110 milhões para que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) adquira leite dos produtores brasileiros. Deste total, R$ 40 milhões serão destinados aos agricultores familiares do Rio Grande do Sul. Cassel informou que o ministério está ultimando um termo com a companhia para que o leite seja incluído no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O limite será de R$ 8 mil por família. "É muito importante a medida, pois aqui no Estado se produz muito leite e se não houver mercado o preço cai. É uma medida do governo para se antecipar aos problemas, recolhendo o leite produzido em excesso", afirmou o ministro, durante a abertura da Feira Brasil Rural Contemporâneo, que se estende até domingo no Cais do Porto, na Capital.
Segundo o ministro, o leite será destinado para os programas sociais do governo federal, tais como merenda escolar, presídios e populações em condições emergenciais. Em Porto Alegre foi confirmada ainda a liberação de R$ 16 bilhões para a agricultura familiar dentro do Plano Safra 2010/2011, além do aumento do teto do programa Mais Alimentos de R$ 100 para R$ 130 mil, incluindo a possibilidade de se fazer operações coletivas de até R$ 500 mil. O Mais Alimentos já financiou, nos primeiros 18 meses, 25,2 mil tratores, o equivalente a 60 mil contratos no valor de R$ 3 bilhões. Desse montante, estão 10 mil resfriadores de leite adquiridos no período de um ano e meio. O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Darlan Palharini, comemorou a decisão do governo. "Temos muitos problemas em época de safra quando há superoferta do produto. E o que precisamos são instrumentos de comercialização", afirmou.
De acordo com Cassel, foi concluída recentemente, em conjunto com líderes do Mercosul, a votação da tarifa externa comum (TEC) do leite, para evitar a possibilidade de novo surto de importação do Mercosul. "Temos nossos vizinhos que produzem muito leite, nos acostumamos a viver com solavancos de mercado. Volta e meia entrava muito leite, mas agora isso não existe mais, e o preço se estabilizou, o que dá segurança para quem está produzindo."
Na feira promovida pelo MDA, que pela primeira vez tem a Capital gaúcha como sede, Cassel destacou a importância de iniciativas que retratem o Brasil rural de hoje. "Muitos ainda carregam a ideia de que o meio rural é lugar do atraso, de pobreza. Isso mudou muito. No campo se produz com muita qualidade." E reforçou o peso da atividade dos pequenos produtores para a economia brasileira. "Hoje a agricultura familiar é responsável por 70% do que se consome no dia-a-dia. Representa 11% do PIB do País", afirmou.
Déficit na balança de lácteos aumenta 420% em abril
O déficit na balança comercial de lácteos aumentou 420% em abril na comparação com os números de março, atingindo valor negativo de US$ 19,05 milhões. O valor é resultado de US$ 13,4 milhões em exportações e US$ 32,5 milhões em importações. Em março deste ano, o saldo negativo na balança de lácteos havia atingido US$ 3,65 milhões, representando US$ 12,07 milhões em exportações e US$ 15,72 milhões em importações. Em abril do ano passado, a balança comercial de lácteos foi deficitária em US$ 6,21 milhões, ou seja, houve um crescimento de 206% do resultado negativo na comparação com abril deste ano.
No acumulado do primeiro quadrimestre, o déficit da balança comercial de lácteos foi de US$ 38,38 milhões. É um valor 124% maior que o saldo negativo de US$ 17,07 milhões apurado em igual período de 2009. Os números da balança de lácteos, ressalta o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite (CNPL) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Sant'anna Alvim, comprovam que há, sem dúvidas, agravamento no déficit na balança comercial de lácteos, o que exige atenção quanto à possibilidade de o País estar sendo alvo de ações de práticas desleais de comércio, o que prejudicaria o setor produtivo nacional.
Em abril de 2009, o Brasil fechou um acordo de cotas e preços com a Argentina para evitar que o mercado interno fosse invadido por produto oriundo de importações daquele país. O governo brasileiro não conseguiu, no entanto, fechar acordo com o Uruguai, quando foi imposta cota de 10 mil toneladas de leite em pó para o segundo semestre de 2009. No início de 2010, entretanto, houve uma mudança nas relações comerciais entre os dois países. O governo brasileiro abriu novamente o mercado interno aos lácteos uruguaios, em troca de cotas de exportação de carne de frango para o país vizinho.
"Nessa barganha, o pecuarista brasileiro saiu bastante prejudicado", adverte Rodrigo Alvim. A valorização do real frente ao dólar, por outro lado, impede o crescimento das exportações de lácteos brasileiros, destaca. "Não é admissível que o Brasil abra totalmente seu mercado para os produtos do Uruguai, uma vez que a liberação das fronteiras para a carne de frango brasileira não foi total, mas de apenas 120 toneladas por mês."
Veículo: Jornal do Comércio - RS