A entrada em vigor das novas normas de classificação do trigo brasileiro foi adiada para 1° de julho do ano que vem. A decisão foi publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Diário Oficial na ultima sexta-feira. A medida foi muito criticada ontem pelos moinhos do País, que esperavam compor seus estoques com o trigo nacional. A expectativa agora é de preços mais elevados ao consumidor, pois o País terá de importar o produto que está mais caro no mercado internacional. Além disso, a Argentina ameaça recriar o imposto polêmico sobre a exportação de grãos.
Com a decisão do Mapa, os produtores brasileiros terão mais um ano para se adaptarem às novas normas de classificação do trigo, anteriormente definida para vigorar a partir de julho deste ano, conforme antecipou o DCI. A Instrução Normativa número 16, publicada no Diário Oficial da União, altera "para 1º de julho de 2012 o início da vigência das regras de identidade, qualidade, amostragem e rotulagem do cereal, estabelecidas na Instrução Normativa nº 38/2010".
Segundo Fábio Fernandes, coordenador de Qualidade Vegetal do Mapa, a prorrogação do prazo será necessária para que os triticultores tenham acesso às variedades adaptadas à nova norma de classificação. "O novo padrão do trigo altera as classes do produto, estabelecendo como designação o tipo melhorador, pão, doméstico, básico e outros. Cada classificação está relacionada à qualidade e tipo de uso, como alimentação humana, moagem e outros. A norma do Ministério da Agricultura determina o percentual máximo de impureza, umidade, matérias estranhas e defeitos, de acordo com o tipo do produto", frisou Fernandes.
Entretanto os moinhos brasileiros apontaram o adiamento como "mais um de muitos", pois a nova norma já foi colocada anteriormente, e da mesma forma foi adiada. "Essa situação vem sendo protelada há muitos anos já. E após muitas tentativas o governo, na hora de implementar a nova norma, adiou novamente. E com isso todos perdem. O produtor que precisará do governo para comercializar sua safra, o moinho que terá de buscar alternativas no exterior, e o consumidor que pagará mais caro por isso", garantiu Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico.
A produção de trigo na safra 2010/2011 foi de 5,88 milhões de toneladas, 17% maior que a safra anterior. Deste total aproximadamente 1,5 milhão devem ser exportadas, por não atenderem a qualidade mínima exigida no País. Já a demanda interna está em cerca de 10 milhões de toneladas do grão por ano. Para o chefe-geral da Embrapa Trigo, Sergio Dotto isso representará um volume de importação ainda intenso do produto, que segue bastante valorizado no exterior. " Estamos comprando bastante trigo importado e pouco trigo nacional, pois a qualidade continua ruim".
Christian Saigh, vice-presidente do Sindicato da Industria de Trigo (Sindustrigo), lembra que o Brasil já importa mais de 90% de trigo da Argentina, o restante é dividido entre Canadá, Uruguai, Paraguai e Estados Unidos. Segundo ele, os preços desses exportadores já estão mais elevados que os patamares recordes vistos em 2008, e com uma parcela ainda pequena de trigo nacional usado na mistura para a farinha de trigo, o consumidor terá aumentos de preços em breve. "Hoje os preços internacionais do trigo estão em patamares muito altos, somente comparados a 2008. Isso preocupa porque temos a necessidade imediata de repassar esses preços ao consumidor. O Brasil está produzindo mais trigo sim, entretanto ele não é consumido no mercado interno. Isso é uma discrepância", disse Saigh, que também é o diretor superintendente do moinho Santa Clara (SP).
No ano passado, a Argentina sofreu com problemas climáticos e reduziu a exportação de trigo. Entretanto, apesar da previsão de alta na produção da safra 2010/2011, projetada em 12 milhões de toneladas, contra 9,6 milhões de toneladas em 2009/2010, os problemas para importar do país vizinho devem seguir. Para Saigh, caso a Argentina confirme a intenção, anunciada no fim da semana passada, de criar imposto sobre a exportação de grãos do país, como realizado em 2008, o Brasil não deixará de importar o trigo argentino. Entretanto, esse aumento será repassado ao consumidor. "Esse adiamento atrapalhará muito o Brasil, pois poderíamos depender menos das importações. A Argentina é muito complicada, nunca sabemos quando as regras irão mudar, é claro que isso preocupa, pois o Brasil compra mais de 90% de trigo deles. Se o imposto aumentar, teremos de repassar imediatamente ao consumidor. ".
Veículo: DCI