Casino pode usar oferta na Colômbia para comprar parte de Abilio Diniz

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Grupo francês pretende arrecadar US$ 1,4 bilhão com oferta de ações do conglomerado colombiano Éxito, do qual é sócio controlador. Segundo fontes de mercado, dinheiro poderá ser usado para comprar participação de Abilio Diniz no Pão de Açúcar

 

Depois de anunciar aumento de participação no Pão de Açúcar com a compra de 6,2% das ações preferenciais, por mais de R$ 1,1 bilhão, o Casino volta a contra-atacar. E sua munição para a guerra pode vir do país vizinho. Na noite de quarta-feira, a rede colombiana de varejo Éxito, controlada pelo Casino, anunciou que fará uma oferta pública de ações para levantar US$ 1,4 bilhão. Segundo o "Estado" apurou, parte do dinheiro pode ser usado para uma eventual contraproposta pela parte de Abilio Diniz no Pão de Açúcar.


Casino anunciou ontem o reforço de sua operação na América do Sul com compra de duas redes no Uruguai

 

A oferta na bolsa já estava planejada pelo Casino, controlador do Éxito, com 54% das ações. A assessoria de imprensa do Éxito informou que a data da oferta pública será decidida na próxima quarta-feira, quando será realizada uma assembleia de acionistas da empresa. O comunicado ao mercado diz que os recursos serão usados para a expansão internacional do grupo Éxito - no mesmo dia, a empresa colombiana anunciou a compra do controle das redes de varejo Devoto e Disco, as duas maiores do Uruguai, por US$ 746 milhões. A América Latina, especialmente o Brasil, é atualmente um dos três pilares de crescimento do grupo francês.

 

Mudança de cenário. Nos bastidores do Casino, portanto, já existe um plano B para o uso desse capital. Segundo fontes próximas ao grupo francês, com a mudança do cenário no Brasil, o dinheiro pode virar "munição para guerra", ser usado como uma demonstração de força.

 

O Casino pode exercer o veto à proposta de fusão com o Carrefour Brasil e antecipar a opção de compra, adquirindo a parte de Abilio Diniz no Pão de Açúcar, dizem essas fontes. "Se ele (Abilio) está tão vendedor, o Casino, então, pode comprar a parte dele. E está mostrando que tem bala na agulha para isso", diz uma fonte.

 

Com base no dia de ontem, a fatia de Abilio valeria aproximadamente R$ 4 bilhões - sendo R$ 2,5 bilhões diretamente e R$ 1,5 bilhões por meio da Wilkes Participações, a holding que controla o Pão de Açúcar compartilhada pelo empresário brasileiro e seu sócio francês.

 

O Casino ainda não se pronunciou a respeito da proposta de fusão com o Carrefour. Ele só fará isso depois que Abilio, presidente do conselho da Wilkes, convocar a reunião do conselho da holding.

 

Na quarta-feira, uma fonte disse ao jornal francês Le Figaro, que o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, pediu reunião do conselho da Wilkes. O Estado apurou que se ela não for marcada, o Casino pretende iniciar uma nova batalha jurídica.

 

Desde que informações sobre negociações entre Abilio e Carrefour vazaram pela imprensa francesa, há pouco mais de um mês, o Casino tem insistido no mesmo discurso - que aposta no Pão de Açúcar e tem compromisso de longo prazo com o Brasil.

 

Mas, na realidade, ele está se preparando para a guerra contra o seu sócio brasileiro. A compra de ações na bolsa nas últimas duas semanas foi orientada pela mesma estratégia.

 

Desde que a disputa começou, o Casino já investiu US$ 1 bilhão para comprar mais de 10% das ações preferenciais do Pão de Açúcar na bolsa. / COLABOROU FERNANDO SCHELLER

 

Casino compra preferenciais para driblar conflito de interesse

 

Aumento de participação do grupo francês pode ser uma jogada para garantir direito a voto em decisões futuras

 

A compra de ações preferenciais que o Casino realizou no mercado, aumentando sua participação de 37% para 43%, pode ter sido um contra-ataque a uma possível estratégia do empresário Abilio Diniz para impedir seu sócio francês de impedir, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a operação de junção com o concorrente Carrefour.

 

Uma fonte ligada ao Casino afirma que o aumento de participação foi um movimento para mostrar comprometimento com a empresa, enviando uma mensagem clara de que vai brigar pelo ativo até o fim. Mas outras fontes que acompanham a operação veem um pano de fundo diferente para o movimento. No centro da batalha estaria uma discussão sobre se há ou não conflito de interesse e sobre quem poderia votar na operação de incorporação de ações prevista numa das primeiras etapas do negócio.

 

Quatro outras fontes afirmam que não há uma posição clara sobre como a CVM deve se posicionar sobre o assunto e será preciso acompanhar o desenrolar da operação. Mas todos tendem a considerar argumentos que se sobreporiam ao conflito de interesse - uma posição que beneficiaria o Casino.

 

A operação apresentada estabelece que as ações preferenciais de emissão da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), empresa que controla o Pão de Açúcar, sejam trocadas por ações ordinárias à razão de 0,95. Já para as ações de Diniz e Casino, a relação seria de 1 para 1.

 

Com essa pequena vantagem de 0,05 na troca estabelecida para os controladores (ordinaristas) pelo grupo de Diniz, tanto o próprio Diniz quanto o Casino poderiam ser impedidos de votar sobre a operação por estarem em conflito de interesse, o que jogaria a decisão para o mercado (preferencialistas).

 

A estratégia interessaria a Diniz, já que o Casino deixou claro ser contrário ao negócio, embora assim como o Casino ele também não pudesse votar, Diniz estaria apostando que a operação seria aprovada pelo mercado, atingindo seu objetivo final.

 

O contra-ataque do Casino viria justamente neste sentido: correr por fora e aumentar sua participação no mercado com as ações preferenciais. Em tese, as regras impedem que os ordinaristas votem na assembleia para aprovar a conversão das preferenciais, por perderem isenção diante do prêmio de 0,05 que embolsarão na razão da troca.

 

Entre os contra-argumentos que poderiam ser apresentados pelo Casino numa possível discussão na CVM está o fato de que a vantagem na troca foi estabelecida por um terceiro. E mais: o impedimento de voto o levaria, mais à frente, à sua diluição no negócio, uma desvantagem que resguardo na lei.

 

Já o grupo de Diniz pode questionar se o Casino poderia usar suas ações no mercado (preferenciais) para votar, uma vez que também tem ordinárias na mão. O Casino poderia contra-argumentar que, desta forma, qualquer terceiro seria capaz de tomar o controle de qualquer companhia que tenha ações preferenciais e ordinárias, e impedir o controlador de votar. Por meio da assessoria de imprensa, a CVM informa apenas que avalia a operação como um todo.

 

A autarquia também poderia ser instada a se manifestar em outros pontos da transação. Por exemplo, na segunda operação de incorporação de ações, desta vez da CRB (Carrefour Brasil) pela CBD. Se aplicada interpretação da Lei das S.A., a Nova Pão de Açúcar poderia ter preferência na incorporação que será feita por sua subsidiária integral, a CBD. Mas a contestação é tida como pouco provável. A CVM também pode ser acionada para avaliar se a relação de troca e o valor da companhia são justos.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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