O RH na panela de pressão

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Para não perder bons profissionais, empresas encurtam processos seletivos

 

O aquecimento do mercado de trabalho e a escassez de profissionais qualificados trouxe para o departamento de recursos humanos das grandes empresas a pressão já conhecida pelas áreas comercial e financeira: é preciso entregar resultados cada vez mais rápidos para não perder capital - neste caso, humano. Por isso, a ordem dentro das organizações é desburocratizar, encurtando pela metade processos de seleção para evitar que um bom profissional vá parar na concorrência porque a empresa demorou para tomar uma decisão.

 

O diretor de operações da consultoria Robert Half, Fernando Mantovani, diz que, ao longo dos últimos meses, a empresa percebeu que processos que chegavam a durar entre 30 e 40 dias, hoje são encerrados em 20 dias. "É comum hoje o candidato participar de três ou quatro processos de seleção ao mesmo tempo. E quem coloca a primeira proposta na mesa geralmente leva. Enquanto o País continuar a crescer, a demanda por profissionais vai continuar aquecida."

 

O fenômeno que a Robert Half detectou de maneira específica é corroborado pelos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego ficou em 6,4% no mês de maio, a menor da série histórica do instituto, iniciada em 2002, para o mês. Ou seja: de maneira geral, os profissionais hoje têm mais poder de negociação e podem se dar ao luxo de escolher o empregador.

 

Para a sócia-diretora da consultoria Mariaca, Patricia Epperlein, é imperativo que as empresas acelerem suas decisões relativas a recursos humanos. "Nos últimos meses, em 10% dos casos, candidatos finalistas que selecionamos para cargos executivos deixaram de ser contratados porque a concorrência agiu mais rápido", diz a especialista. Patricia afirma que, quando isso ocorre, a empresa é obrigada a voltar à estaca zero ou a reduzir as expectativas em relação ao candidato.

 

Agilidade. Para não perder capital humano de qualidade, algumas empresas lançam mão de metas claras, determinando data de início e de fim para os processos de seleção. É o que ocorre na Aspen Pharma, empresa farmacêutica de origem sul-africana que tem 400 funcionários e fatura R$ 200 milhões no Brasil. O presidente da empresa, Alexandre França, diz que o tempo máximo para uma decisão sobre uma contratação - qualquer que seja a posição - é de um mês.

 

Para garantir um "atalho" que evite que o processo se arraste sem necessidade, o executivo afirma que a principal arma é evitar etapas desnecessárias: o candidato geralmente é entrevistado somente pelo departamento de RH e pelo futuro chefe direto. Além disso, toda vez que surge uma vaga, um e-mail é automaticamente disparado a todos os funcionários, incluindo os de chão de fábrica. "Existe uma ferramenta de indicações, em que todas as carcaterítiscas da vaga são informadas. E todos podem participar", explica.

 

Na TBA, rede de cinco empresas da área de tecnologia que fatura R$ 400 milhões ao ano e desenvolve projetos de TI para clientes como Petrobrás, Caixa Econômica Federal e Votorantim, as contratações da área técnica são tratadas em regime de urgência. Com 1,4 mil funcionários, a TBA trabalha por projetos. Por isso, segundo a diretora de RH do grupo, Mariana Boner, é preciso preencher as vagas para garantir contratos. Em alguns casos, o processo de decisão foi reduzido para cinco dias.

 

Para a executiva, o mais importante é alinhar as agendas dos diretores de área para que o candidato não tenha de ir à empresa diversas vezes. "O objetivo é que o profissional vá à empresa e passe o dia: faça testes, dinâmicas e seja entrevistado pelo RH e pelo futuro gestor", explica. Como a TBA tem vários escritórios no País, Mariana mandou instalar salas de videoconferência nas diferentes regionais, para entrevistas remotas. "Preciso otimizar, evitar deslocamentos."

 

Com mais de 20 mil funcionários, a Tivit vê sua equipe crescer na medida do faturamento - em 2010, a empresa cresceu 15%, atingindo receitas de R$ 1,2 bilhão. Isso se traduziu em cerca de 3 mil novas contratações. Segundo o diretor de desenvolvimento humano e organizacional da empresa, Marcello Zappia, além da agilização das decisões para garantir contratações acertadas, é essencial que as empresas formem a própria mão de obra. "Só roubar empregados da concorrência acaba por onerar demais a folha no longo prazo."

 

A Tivit mantém parcerias com universidades e cursos técnicos - com preferência em processos seletivos -, mas deu um passo adiante na estratégia de formação: no colégio Spei, em Curitiba, os alunos do ensino médio usam um laboratório de informática montado pela empresa. "A ideia não é que eles venham trabalhar para a gente. Mas queremos mostrar que o trabalho em TI é uma opção para o futuro."

 

3 RAZÕES PARA...

Agilizar as contratações

1.Em um mercado aquecido, os profissionais participam de vários processos seletivos. Geralmente, quem faz a primeira proposta acaba por atrair os melhores candidatos.

2. Como há escassez de trabalhadores qualificados, se perder um bom candidato, a empresa pode se ver obrigada a reduzir as exigências de perfil e qualificação para cargos-chave dentro da organização.

3. Desburocratizar as contratações - com a eliminação de entrevistas e testes desnecessários - pode servir de exemplo para ganhos de produtividade em outras áreas da empresa.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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