Dados demográficos mostram que as mudanças comportamentais influenciam na relação do consumidor com o alimento. Do lanche do hiperconectado integrante da geração D (digital, nascidos entre 1995 e 2002) ao Rurbanismo artesanal, passando polos Neo-Boomers. Entre as tribos, o estudo "The Future Report Food" destaca o Foodies DIY e Rurbanites.
Entre as tendências detectadas, o estudo traz a Conviviality Culture (cultura do convívio) em resposta à recessão global. Para dar mais significado às vidas e cortar custos, as famílias optam por refeições em casa e têm utilizado a tecnologia em favor desse objetivo. Conectados, buscam nas redes sociais formas de compartilhar compras coletivas de alimentos e de preparo. Mais conscientes do papel da alimentação na sociedade, as pessoas têm criado rituais - quase teatrais - de consumo.
A tendência Revivalist, por exemplo, mostra que os consumidores estão em busca de uma "âncora" para lidar com esses tempos turbulentos e veem nas antigas receitas uma forma de conforto afetivo; estão "revivendo" de maneira nostálgica a alimentação. Alimentar-se com três refeições diárias é uma forma de buscar a segurança de antigos tempos. Algumas tribos rejeitam a frieza do mundo contemporâneo e estão buscando inspiração em modos rurais de viver; formas similares às dos avós.
Nesse contexto, norte-americanos passaram a freqüentar restaurantes que resgataram o preparo dos alimentos, inclusive, investindo em receitas clássicas. As experiências de convívio também são buscadas por uma nova geração de consumidores. Alguns chefs nórdicos, por exemplo, estão trabalhando com jantares experimentais cercados de rituais dramatúrgicos e de novas formas de oferecer experiências diferentes.
Estratégia - O novaiorquino What Happens When, altera mensalmente o menu, a música e o design do interior do restaurante, criando uma aura de autenticidade. As embalagens também sofreram influência da tendências e inúmeros produtos têm investido em antigos layouts. Na tendência Hometelligence vemos que a recessão global transformou o jantar em casa uma maneira muito popular de se alimentar e controlar os gastos. Nos Estados Unidos, 45% das famílias limitaram os jantares fora de casa - uma forma de gastar, também, menos gasolina.
O impacto positivo se deu na indústria de livros; as vendas de livros de receitas cresceram 4% em 2010. No Reino Unido, as vendas de cook books aumentaram 8% entre 2010-2011, destaque para o chef Jamie Oliver que já vendeu 1,2 milhão de cópias. A tendência causou impacto também na indústria de eletrodomésticos. A Electrolux, por exemplo, lançou uma geladeira com painel de touchscreen para acionar 600 receitas.
Enquanto a geração D está usando a web para compartilhar experiências gastronômicas, os Neo-Boomers estão usando o rendimento disponível para comer melhor, comprar alimentos naturais e funcionais.
Baby boomers investem em dieta saudável
Uma nova geração de baby boomers tem investido em uma dieta saudável por meio de alimentos funcionais. Alimentos sem glúten, snacks vitaminados e produtos naturais são os preferidos desses consumidores para os quais a idade é um estado de espírito. Com mais dinheiro e tempo, essa geração consegue fazer as três refeições diárias e gasta, semanalmente, cerca de US$ 125 em supermercados (gasto individual). Mais preocupados com o colesterol e pressão arterial, adquirem alimentos saudáveis e vitaminas. Para os neo-boomers, comer é uma oportunidade de se divertir. Alimentos funcionais que promovem saúde, bem-estar, energia e que têm efeitos antienvelhecimento estão na lista diária dessa geração.
Os Foodies DIY estão produzindo uma nova cultura de gastronomia por meio do compartilhamento de informações on-line, criação de sites com informações sobre produtores rurais, marcas e produtos diferenciados. Hiperconectada, essa geração cria novas receitas a partir de antigas; reinterpreta sabores antigos e tem real entusiasmo em experimentar formas diferentes de se relacionar com os alimentos. Cozinheiros amadores e autodidatas, navegam na internet em busca de informações e ditam tendências que unem o simples e o sofisticado.
A situação da saúde em cada país também é um fator que determina tendências. Em países da Europa e Estados Unidos, os consumidores exigem cortes na gordura, açúcar e teor calórico; em outras localidades, a demanda é pela aquisição de suprimentos produzidos de forma ética e orgânica. Os superalimentos estão conquistando novos consumidores interessados em aliar alimentação e saúde.
O mercado de snacks também vive momentos de expansão, um impacto que é resultado do aumento de horas dedicadas ao trabalho. O mercado global deve chegar a US$ 334 bilhões em 2015; em países como Brasil, China, Índia, México e África do Sul, os snacks representarão um mercado de US$ 15,7 bilhões em 2014. Segundo Paulo Al-Assal, CEO da Voltage e um dos principais especialistas brasileiros em tendências, para consolidar o crescimento a indústria tem se adaptado a novos padrões de consumo. "Em um ambiente cada vez mais avesso ao sal, as vendas de salgadinhos nos Estados Unidos cresceram 18,4% entre os produtos com redução de sódio", detalha.
Orgânicos - A indústria mundial de orgânicos deve faturar, em 2015, cerca de US$ 104,5 bilhões. claro que ainda existe a percepção de que o produto orgânico in natura é caro, mas a percepção de que é aliado da boa saúde tem rompido barreiras. "Há uma questão interessante em relação aos orgânicos. Hoje, o consumidor quer que além de ser orgânico, o orgânico tenha elevados padrões éticos. Ou seja, que haja ética em todo o processo de produção e comercialização; que o produto esteja ligado à sustentabilidade e crescimento de economias locais. Com tais atributos, a percepção de que se paga mais por um produto diferenciado - e aliado a valores éticos - consolida novos atributos ao produto. Passa a valer a pena pagar mais", avalia Al-Assal.
Com o alinhamento de padrões de produção ditados pela Federação Internacional de Agricultura Orgânica estão sendo estabelecidas normas que unem sustentabilidade, justiça, cuidado, ecologia e saúde. As marcas orgânicas também estão agregando valor aos produtos com características extra - nos Estados Unidos, lácteos da marca Horizon Organic contêm derivados de Ômega 3. O país tem uma excelente aceitação de produtos com esse perfil; os consumidores serão responsáveis, em 2012, por um consumo de produtos cultivados localmente, movimentando US$ 7 bilhões.
A pesquisa destaca que no Brasil os alimentos orgânicos são vistos como "chiques" e são servidos, também, em hotéis de luxo. "No mundo inteiro, os orgânicos crescem anualmente cerca de 30%; no Brasil, têm crescido 40% nos últimos anos", afirma.
Novos congelados - Há uma tendência clara sobre o interesse de britânicos em produzir o próprio alimento. No Reino Unido, um em cada cinco consumidores planta vegetais para consumo próprio. "As pessoas estão cada dia mais interessadas em se envolver proativamente na cadeia alimentar, na produção de alimentos primários. Do mesmo modo que há décadas os britânicos cultivavam rosas, hoje os jardins passam a ter espaço para hortaliças", avalia Al-Assal.
Em contrapartida, o mercado mundial de congelados também vive um período de crescimento acentuado, chegando a US$ 211,5 bilhões em 2015. Na Ásia Pacífico e América Latina, as frutas e vegetais congelados devem liderar o crescimento de consumo. Para atrelar atributos de saúde aos alimentos congelados, as marcas têm lançado mão da tecnologia. No Reino Unido, uma marca lançou sacos tamanho família de legumes que apresentam um "selo de valor", ou seja, garante que o preparo no vapor retém as vitaminas dos alimentos.
Com mais informações e ferramentas on-line de pesquisa, os consumidores são mais exigentes e pesquisam muito antes de comprar. "Na Europa, por exemplo, vemos uma geração de consumidores que buscam conveniência de maneira ampla. Então, as marcas tendem a reduzir a gama de produtos oferecidos, focando nos essenciais - uma tentativa concreta de ser ágil e eficiente. Esse consumidor quer comprar um número reduzido de produtos que resolvam as necessidades diárias. Há o anseio por uma vida mais simples, descomplicada", detalha Al-Assal, acrescentando que o consumidor, em especial o norte-americano e europeu, está fascinado pela procedência da alimentação. "Eles querem saber de onde vem o produto alimentício adquirido e, sobretudo, a história da empresa. Alguns varejistas têm investido, inclusive, em exposições interativas e educacionais destinadas a aproximar o cliente do processo de produção", finaliza.
Veículo: Diário do Comércio - MG