Empresa sobrevive com a fabricação artesanal e venda de sorvete e oferece um cardápio com mais de 80 sabores.
Manter os "pés no chão" e apostar na criação sem abrir mão da tradição é a receita do sucesso da Sorveteria Universal, que acaba de completar 80 anos de mercado. A história da empresa, hoje instalada no bairro Floresta, região Leste de Belo Horizonte, teve início com a chegada a Belo Horizonte do imigrante italiano Arthur Stna, bisavô da empresária Liliane Lacorte, que hoje comanda a sorveteria junto com a mãe, Thelma Elizabeth Lacorte.
A primeira loja da sorveteria foi inaugurada em 1930, próxima à Praça Sete, no centro da Capital. Em 1932, já com o nome de Sorveteria Universal, passou a ocupar um imóvel na avenida do Contorno, onde está até hoje. "Naquela época, a Floresta se constituía como um bairro residencial, que abrigava famílias operárias. Ele viu ali o ponto ideal para instalar a tradição italiana do sorvete como um alimento e não apenas uma guloseima. E é esse o lema que mantemos até hoje", explica Liliane Lacorte.
Oito décadas depois, o negócio ainda prospera nas mãos dos descendentes de Stna. Mesmo enfrentando as incontáveis crises econômicas vividas pelo país ao longo do século 20 e um incêndio, em 1992, que praticamente destruiu a empresa, a Universal sobrevive com a fabricação e venda de sorvetes artesanais e hoje oferece um cardápio com mais de 80 sabores.
"Até hoje mantemos os mesmos equipamentos da década de 1930. Desenvolvemos um produto que não usa conservantes e nem gordura hidrogenada. Como a produção é artesanal e usa frutas frescas, trabalhamos com produtos da época, por isso alguns sabores entram e saem do cardápio durante o ano. Temos um produto muito específico, não usamos o sistema self service e ainda usamos a forma tradicional de servir, em taças de vidro ou na casquinha", informa a empresária.
Mas para agradar também às novas gerações, além de novos sabores, outras opções de produtos gourmet como o petit gateau e o bolo gelado, além dos lanches que já são servidos desde a década de 1990, são oferecidos. A Universal também atende eventos fechados como festas.
A localização nobre, em um corredor de trânsito em um dos bairros mais tradicionais da cidade, fez com que a empresária fosse alvo da especulação imobiliária. "Na época do incêndio fomos muito assediados por causa do ponto. Atualmente, recebo propostas pelo negócio, gente querendo comprar a sorveteria, mas não necessariamente por causa do ponto. A Floresta já não é mais um bairro tão interessante para o comércio quanto antes", avalia.
Ano passado, o faturamento da Universal chegou a quase R$ 400 mil. "2011 não foi um ano bom. O verão, muito chuvoso, afugentou os clientes justo na melhor época do ano. No nosso negócio, pior do que o frio é a chuva. Por isso, o planejamento tem que ser muito bem feito pois o faturamento varia muito. Ano passado, por causa da seca prolongada que vivemos, o mês de maior volume de vendas foi julho, em pleno inverno. Temos que estar precavidos para as variações do clima e das safras das frutas", ensina a empresária que comanda uma equipe de cinco pessoas.
Recebendo cerca de 2 mil pessoas por fim de semana, Liliane Lacorte recolhe histórias de famílias inteiras que freqüentam a sorveteria. São avós que levam os netos para conhecer sabores tradicionais como o de doce de leite, ou modernos como o de chocolate meio amargo com doce de leite e castanha do Pará, e se recordam da própria infância. "Recebemos, recentemente, uma moça que veio buscar um pote de sorvete de doce de leite para a avó como presente de aniversário. Ela contou que o pedido foi feito pela própria avó, que queria recordar a juventude. Foi na sorveteria que conheceu quem viria a ser seu marido", relembra.
Histórias como essas estão sendo recolhidas pela empresária que mantém um livro na sorveteria para receber os relatos. A ideia é em setembro, mês de aniversário da empresa, lançar um livro reunindo os melhores relatos, até agora já são mais de 60. Dando continuidade às comemorações, novos sabores e produtos deverão ser lançados.
Veículo: Diário do Comércio - MG