Desaceleração da China deve entrar no 10º mês

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Mesmo com fortes indícios de recuo na indústria da 2ª maior economia mundial, governo resiste à pressão para afrouxar política monetária


A produção industrial chinesa deve cair pelo décimo mês seguido em agosto e atingir o mais baixo nível desde novembro, de acordo com resultado prelimitar de pesquisa divulgado ontem. Apesar dos indícios de forte desaceleração da segunda maior economia do mundo, o governo tem resistido à pressão para a afrouxar a política monetária, em razão da alta no preço de imóveis registrada depois de cortes na taxa de juros em junho e julho.

O resultado parcial do Índice Gerente de Compras (PMI na sigla em inglês) calculado pelo HSBC ficou em 47,8, abaixo dos 49,3 de julho - níveis inferiores a 50 indicam contração da atividade econômica. O indicador é baseado em pesquisa com executivos de compras de 420 empresas industriais e dá um panorama com base no comportamento de itens como novos pedidos, emprego, produção e estoques.

Na opinião do economista-chefe para a China do HSBC, Qi Hongbin, o governo terá de afrouxar a política monetária se quiser estabilizar o ritmo de crescimento e o emprego nos próximos meses.

Depois que a produção industrial desacelerou além do esperado em julho, o mercado passou a prever novos cortes da taxa de juros e redução da quantidade de dinheiro que os bancos devem deixar imobilizados, sem emprestar aos clientes, o que liberaria recursos para o crédito.

Nenhuma das medidas havia se concretizado até ontem. Em vez delas, o Banco do Povo da China preferiu fazer operações de compra de títulos públicos para dar liquidez ao sistema bancário. Nesta semana, as transações injetaram no mercado o valor líquido de US$ 43,8 bilhões, o maior volume desde janeiro.

Limitações. A capacidade do governo de adotar uma política monetária mais agressiva é limitada pela possibilidade de que as mudanças voltem a inflar a bolha do mercado imobiliário que o governo tenta conter desde 2010. Em julho, os preços dos imóveis subiram no maior número de cidades em 14 meses, depois dos dois cortes de juros anunciados em espaço inferior a 30 dias. Dados divulgados sábado mostraram elevação de preços em 49 das 70 cidades pesquisadas, comparadas a apenas 25 no mês anterior.

O Produto Interno Bruto (PIB) da China desacelera há seis trimestres seguidos e teve expansão de 7,6% no período de abril a junho, o mais baixo nível desde o início de 2009, no auge da crise financeira global.

As previsões de que a situação melhorasse no terceiro trimestre foram abandonadas depois da desaceleração da produção industrial e das exportações em julho e deverão ficar ainda mais pessimistas com os dados de agosto. Os embarques chineses para o exterior registraram no mês passado alta de apenas 1% em relação a igual período do ano passado, abaixo da expectativa de expansão de 8%.

O PMI preliminar indica que as dificuldades no front externo continuaram em agosto. O subíndice relativo a novos pedidos de exportação ficou em 44,7, o menor desde março de 2009.

O fraco desempenho da economia em julho levou vários bancos a reduzirem a projeção de crescimento da China neste ano. O Bank of America Merill Lynch, que esperava expansão de 8%, prevê agora 7,7%, mesmo número do Deutsche Bank (que antes previa 7,9%). O Barclays reduziu a projeção de 8,1% para 7,9%, enquanto o Morgan Stanley baixou a sua de 8,5% para 8,0%. Em qualquer dos casos, será o menor ritmo de expansão em 13 anos.

Se os resultados de agosto também decepcionarem -como o PMI preliminar indica, é provável que os analistas revisem mais uma vez as estimativas. Depois da média de 10% de crescimento ao ano nas últimas três décadas, tudo indica que a velocidade será reduzida para algo em torno de 7% a 8% a partir de agora.


Alta nos estoques assusta chineses


Depois de três décadas de intensa expansão, a China está enfrentando um problema estranho com a sua economia: o acúmulo de produtos não vendidos que está atravancando pisos de lojas, entupindo concessionárias de veículos e enchendo armazéns de fábrica.

O excesso de tudo, desde aparelhos de aço e utensílios domésticos a carros e apartamentos, está dificultando os esforços do governo chinês para recuperar a economia. Os elevados estoques também produziram sucessivas guerras de preços e levaram os fabricantes a redobrarem os esforços para exportar o que não conseguem vender no mercado doméstico.

A gravidade do problema tem sido cuidadosamente mascarada pelo bloqueio ou ajuste de dados econômicos divulgados pelo governo chinês - tudo parte de um esforço para sustentar a confiança dos investidores. Mas uma pesquisa não governamental feita com empresários chineses revelou que os estoques de produtos industriais aumentaram muito mais rapidamente em agosto do que em qualquer outro mês desde que a pesquisa começou a ser feita, em abril de 2004.

O recorde anterior para elevados estoques, segundo a pesquisa do HSBC/Markit, foi registrado em junho. Maio e julho também apresentaram aumentos.

A fraqueza da economia da China significa menos importação de bens e serviços em um momento em que a crise da dívida na Europa já prejudica a demanda, aumenta a perspectiva de um excesso de oferta global de produtos, preços em queda e fraca produção ao redor do mundo.

O ritmo das exportações chinesas tem recuado. As importações, principalmente de matérias-primas, estão em níveis baixíssimos. O preço dos imóveis caiu bruscamente e o dinheiro tem deixado o país por uma variedade de canais legais e ilegais.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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