Aos poucos, os pneus fabricados no país, de melhor qualidade, devem ganhar espaço no mercado interno
O setor de reposição de pneus está otimista em relação ao próximo ano. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Revenda e de Prestação de Serviços de Reforma de Pneus e Similares do Estado de Minas Gerais (Sindipneus), Paulo Bitarães, o fim dos incentivos fiscais para os importados - previsto para dezembro - deve acabar com a liderança dos produtos chineses de menor qualidade no mercado mineiro. Além disso, a alta do dólar pode dar mais competitividade ao artigo nacional e impulsionar o faturamento das empresas de reposição.
Conforme dados do Sindipneus, cerca de 55% dos pneus para automóveis vendidos nas lojas de Minas Gerais são importados, mas a previsão é de que os negócios melhorem a partir de janeiro de 2013, quando terminam os benefícios dados pelo governo federal aos grandes importadores, que chegam a colocar no mercado brasileiro mais de 200 mil unidades por mês. "Se o dólar continuar valorizado, por volta de R$ 2,00, a produção nacional e, conseqüentemente, as vendas das repositoras serão beneficiadas", afirma o dirigente da entidade.
As marcas Goodyear, Firestone, Bridgestone, Michelin e Pirelli já possuem fábrica no país e, mesmo produzindo itens de alta qualidade, não conseguem competir no mercado interno com os pneus importados, principalmente com aqueles de fabricação chinesa, que chegam ao país em enorme quantidade e a baixo custo.
Isso porque, segundo Bitarães, a grande produção força a exportação do excedente para locais como o Brasil. "Com os benefícios fiscais do governo, estes produtos chegam com o mesmo preço vendido no país de origem. O lucro de até 15% das grandes importadoras está nos descontos fiscais", lembra.
Tempo - Porém, segundo avaliação do gerente-geral da Recaminas Pneus, Frederico Fonseca, essas medidas só serão benéficas a médio e longo prazos. Com 50% do comércio da loja feito com produtos importados, sendo 20% chineses, ele acredita que as barreiras vão prejudicar os negócios no próximo ano. "O governo quer substituir as importações de pneus pela fabricação nacional. No curto prazo, as indústrias não vão ter como suprir a demanda de um mercado em expansão, como o brasileiro, e os preços devem subir. Já no médio e longo prazos será positivo, uma vez que incentivará as indústrias nacionais e os consumidores serão recompensados", aponta.
"O mineiro sempre procura pneus a preços mais mais baixos, em vez de olhar a relação custo-benefício, oferecida pelas marcas de qualidade superior, como as coreanas, alemãs e brasileiras. Com a alta do dólar nos últimos meses, os preços dos importados subiram e, conseqüentemente, dos nacionais, que acompanharam o mercado. Com a produção nacional em alta, as mercadorias fabricadas no país vão ser mais competitivas e de melhor qualidade", acredita Fonseca.
A Recaminas, com dez anos de mercado, registrou crescimento de 30% na receita no primeiro semestre na comparação com os seis primeiros meses do ano passado. "Isto só foi possível porque adotamos a estratégia de ofertar pneus mais baratos, muitos de marcas asiáticas de qualidade inferior, com menor resistência e aderência", admite. Ainda de acordo com o gerente-geral, a expectativa é de que até o final de 2012 o faturamento continue em alta e feche o segundo semestre também com expansão de 30% ante o mesmo intervalo de 2011.
Estabilidade - Segundo o gerente-geral da Toc Pneus, Washington Tolentino, a alta do dólar gerou aumento nos preços dos pneus importados. Porém, o produto nacional também sofreu reajuste e não conseguiu competir com os produtos chineses.
"Os artigos asiáticos são de qualidade muito inferior, assim como os preços. Como o consumidor mineiro está mais interessado em custo do que em qualidade, registramos uma estabilidade nas vendas do primeiro semestre deste ano, na comparação com o exercício anterior", diz o gerente da loja, revendedora exclusiva da marca Goodyear.
Com nove unidades instalas do Estado, sendo oito na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e uma em João Monlevade (Vale do Aço), a empresa prevê crescimento mínimo de 10% nas vendas até o final de 2012 na comparação com 2011. "A Goodyear está investindo em uma linha de produtos econômicos, com garantia e o mesmo preço dos importados. Com a popularização desta linha, a empresa pretende conquistar uma nova fatia do mercado, que opta por preços mais baixos", diz. Ainda segundo Tolentino, a loja está apostando também nas promoções nas mídias sociais como forma de atrair os clientes.
Michelin ainda precisa recorrer ao exterior
Já o gerente-geral da Unique Pneus, Guilherme Batistele, afirma que este ano tem sido ruim para a revendedora exclusiva da fabricante Michelin, que, mesmo com uma planta no Brasil, ainda depende da importação de produtos para suprir a demanda das revendas.
Porém, devido à operação da Receita Federal, realizada nos meses de março, abril e maio, que fiscalizou com mais rigor a entrada de mercadoria de outros países, algumas lojas ficaram sem vários modelos. "Isso provocou uma redução de 30% das vendas nestes meses, em relação ao ano anterior. A participação da Michelin no mercado, que era acima de 5%, caiu para 3,7%", diz.
Mesmo assim a previsão para o ano é de que as vendas fiquem estáveis em relação ao exercício anterior. "Agora, estamos com o abastecimento normal e devemos recuperar o mercado no segundo semestre, mas não prevemos crescimento", comenta. Para melhorar os negócios, o gerente conta com a ação do governo para impedir a entrada de produtos subfaturados da China no país, além do aumento da produção nacional.
"A Michelin está criando uma estratégia bastante agressiva. Até 2015, ela prevê a fabricação de 5 milhões de pneus por ano e vender diretamente para montadoras, além de abastecer as revendas. Uma pesquisa realizada pela empresa revela que 60% dos consumidores preferem a marca do pneu original de fábrica. Ou seja, se o carro já sair com um Michelin da fábrica, é grande a possibilidade de eles continuarem compando só pneus daquela marca. Este aumento de produção vai melhorar nossa posição no mercado, enquanto revendedora, com abastecimento em dia, mercadorias melhores e com preços competitivos", afirma Batistele.
Veículo: Diário do Comércio - MG