As indústrias calçadistas chegam cautelosas ao fim do ano, apesar do cenário cambial mais favorável, na faixa dos R$ 2 por dólar, e das medidas de apoio do governo como a desoneração da folha de pagamento e o Reintegra, que devolve às empresas até 3% do valor das exportações para compensar os impostos pagos na cadeia produtiva. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a tendência é de nova desaceleração no mercado interno e nas exportações no acumulado de 2012.
A Bibi, fabricante de calçados infantis, iniciou o ano projetando um crescimento de 7% a 12% sobre o faturamento de R$ 126 milhões registrado em 2011, mas agora torce para ficar entre 6%, índice acumulado até outubro, e 8%, diz o diretor-administrativo e financeiro Rosnei Alfredo da Silva. O problema é que o mês de outubro, sozinho, teve desaceleração na taxa de crescimento para 2% e o cumprimento do topo da nova previsão vai depender do comportamento das exportações em dezembro. Segundo o executivo, a meta é que a o mercado externo absorva 15% do volume anual de vendas.
No mercado interno, conforme Silva, os lojistas estão com estoques relativamente altos e o consumidor está com a renda comprometida com o pagamento de serviços e bens duráveis, como eletroeletrônicos e automóveis. Klein, da Abicalçados, não arrisca um percentual de queda da demanda doméstica, mas afirma que ela reflete na desaceleração do ritmo de geração de empregos no setor no país, que segundo o Ministério do Trabalho recuou de 23,6 mil novos postos de janeiro a setembro de 2011 para 19,7 mil no mesmo período deste ano. Em 2011, conforme a Abicalçados, o consumo aparente de calçados no país recuou 5%, para 741 milhões de pares.
"O que houve foi o esgotamento da capacidade de consumo", avalia Klein, que também prevê uma retração nas exportações de US$ 1,3 bilhão em 2011 para US$ 1,1 bilhão a US$ 1,15 bilhão neste ano. Em 2010 os embarques somaram quase US$ 1,5 bilhão. "Houve alguma recuperação, mas ainda não o suficiente", explica o executivo, referindo-se aos efeitos do câmbio e das medidas de incentivo do governo. Nos dez primeiros meses do ano a queda acumulada nas vendas externas foi de 15,3%, para US$ 911,8 milhões, embora outubro, isoladamente, tenha registrado a primeira alta do ano na comparação com o mesmo mês de 2011, com expansão de 9%, para US$ 110,3 milhões, conforme a Abicalçados.
Mesmo quem projeta um crescimento forte em 2012, como o grupo Priority, dono das marcas West Coast e Cravo & Canela, atribui o desempenho a ganhos de participação no mercado e não à alta generalizada do setor. Conforme o diretor Eduardo Smaniotto, os lojistas reduziram o ritmo de encomendas no segundo semestre, mas a empresa vai crescer 30% no acumulado do ano porque dobrou a participação no portfólio dos principais clientes ao longo do período graças à estratégia de "reposicionamento" das marcas. Na sua avaliação, o comportamento "conservador" do varejo nos últimos meses pode provocar a falta de alguns produtos no fim do ano.
Veículo: Valor Econômico